26.11.07

Olhem pro espelho

Fui para Barra do Ribeira no último final de semana. No ônibus a caminho de Iguape, passando pelos extensos bananais de Itariri, Pedro de Toledo e Miracatu, me veio esse texto que segue abaixo. Espero que gostem =]


Espelho, espelho meu...

Já foi pedra, e causou tropeço. Já foi degrau, e fez tombar. Já foi banco da praça. Nunca enxergou direito mesmo, bateu feio o joelho.

Mesmo atordoado seguiu em frente. Caiu, levantou e caminhou. Hoje corre; e cai, mas não pára de correr.

Meio capenga, já foi muro. Nunca enxergou direito mesmo. Bateu a cara. Quebrou o nariz e perdeu os atacantes. O sorriso, que já era amarelo, ficou amarelo e desfalcado e hoje ainda, quase sempre de azulejo.

Insaciável em sua gastura, insatisfeito em ser muro, quis ser arranha-céu. E foi gêmeos, que desabaram sobre a própria cabeça.

Manco, caolho, aleijado, com a cara torta e esclerosado, mas ainda insaciável em sua gastura, agora é abismo. Nunca enxergou direito mesmo. Desenvolvimento! E hoje corre, rumo ao abismo. E cai?!

Mas... oh! Evolução? Uma esperança? Ou será apenas mais uma adaptação, o mesmo círculo vicioso com outra máscara que não causa mudança? Não, não. É preciso e positivo acreditar. Sistemia físico-técnico-espírito-sócio-afetivo-epistemológico-sensitivo-comunicacional. Algumas vozes já assumem que a hegemonia precisa ruir, que a necessidade premente é evoluir, que não dá mais pra se encaixar e seguir o fluxo. O fluxo é o mercado e sensações são mercadorias.

Sim, o mundo precisa mudar. Que mundo precisa mudar? "O que está embaixo é como o que está no alto. O que está no alto é como o que está embaixo". Assim falava Hermes Trimegisto.

O interior é mundo, o mundo é interior. E o interior pode ser pedra, degrau, banco da praça, muro e arranha-céu. E tantas outras coisas. O interior é o que se faz dele e por ele nos lugares e nos mundos, e vice-versa.

Hakim Bey diz que "a Babilônia toma suas abstrações como realidade". O homem pode ser seu próprio abismo. Entendendo o mundo como espelho, se torna duro olhar no espelho.

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2.11.07

Sai que a comida é minha!

Era muito bom para ser verdade. E tão fácil. Perder tempo seria o maior dos erros, pois oportunidades como esta não acontecem todos os dias. Uma montanha doce como aquela não podia ser desperdiçada. Sabia que precisava correr, avisar os companheiros e mobilizar para o trabalho.

Afinal, acabou de acabar, mas não demora muito outro inverno vem aí e a dispensa não poderá estar vazia, a galeria de fungos necessitava de substrato... Senão, como alimentaria toda a comunidade?
Nessas horas o dever chama. Era hora de usar as seis pernas tão bem treinadas para estas responsabilidades. Mas com certeza não aguentaria. Que adianta se enganar. Perder tempo pensando é um erro, não há folga pra isso. Quando não faz, sempre dá pano pra manga. E além do mais ainda há os gigantes. Gigantes são os macacos pelados, nunca se sabe qual temperamento domina seu momento. Se um deles chegar...
Tinha consciência plena que não deveria, mas o bolo era tão bonito... O cheiro de aimpim... Sem demora. Um pedacinho só e correria como nunca. Rápido como o Papa Léguas! O risco aumentaria, mas sua compulsão só fazia berrar em sua cabecinha atordoada. Não aguentou. Correu até o grande bolo de aipim que se encontrava sobre uma boleira laranja com a tampa um tanto torta, passou pelo vão que se formava e deu uma mordida. Ah! Agora sim poderia cumprir satisfeito sua missão.

Era uma formiga operária. Explorar a casa em busca de alimentos doces e avisar o operariado quando topasse com guloseimas era a sua missão. Somente as formigas mais habilidosas e destemidas ocupavam este cargo, que necessitava de destreza, velocidade e muita inteligência. Valentes, desafiam os perigos do mundo dos gigantes sozinhas. As outras vão em bando depois que as exploradoras dão o sinal. Enfrentar os grandes pés e aquela impiedosa atitude dos macacos pelados com os insetos que interagiam no território... Cada excursão era um delicioso desafio para esta formiga responsável pela segurança alimentar da comunidade. Para as famílias cada saída a campo era motivo de preocupação e apreensão.

Desde criança já apresentava um metabolismo mais acelerado que o normal - os pais chegaram a desconfiar de hiperatividade. Sempre quis ser uma operária exploradora. O que faria, se não viver a emoção do desconhecido? E sempre foi apoiado pelos pais, apesar dos riscos. Porque explorar o mundo dos gigantes era motivo de orgulho para qualquer família de formigas. Sair por aí em busca de comida era das mais importantes funções da sociedade formiguense.

Os gigantes construíram caixas gigantes sobre o mundo das formigas. O tempo passou e as formigas, espertas, se adaptaram. Os jardins, as paredes... tanto lugar bom pra formigueiros! E então primavera e verão viraram estações de aventura para as destemidas formigas exploradoras, que precisam disputar com os macacos pelados boa parte do alimento que comerão nas estações frias. Não importa se era resto, alimentos que iam pro lixo. Era só um macaco pelado pegar formigas trabalhando que era atingido por um surto de antropocentrismo e trucidar as inocentes operárias.

Tinha acabado de passar pelo vão, saindo da boleira. Agora era a hora de correr como nunca. Mal pensou que não era um bom momento para aparecer um gigante, eis que surge pela porta da cozinha. E viu a formiga. Ela correu, sabendo que não adiantaria. A mão do macaco pelado já descia a toda sobre seu corpo.

De repente acordou, não se mexeu por instante e levantou ainda meio babaca de sono. O nariz estava irritado. Devia ser o ar condicionado, comentou já com a esposa que não está legal o aparelho, provavelmente sujo e cheio de ácaros, só não tomou nenhuma atitude. Foi até o banheiro, olhou para o espelho, abriu a torneira e jogou água no rosto. Agora já podia ir tomar o café da manhã, só precisava pegar o notebook, estava esperando um e-mail importantíssimo para aquela manhã.

Caminhando até cozinha viu um pontinho preto se mechendo no chão do corredor, um tanto à frente. Se aproximou e reconheceu uma formiga carregando um pedaço de não sei o quê. Lembrou do sonho que teve e pensou nas formigas, em todas que já matou. Chegou então à conclusão que, por mais que fosse um homem estudado, viajado, moderno, inteligente e muito bem educado, "fino", como diriam as madames, por vezes e outras se pegava em disputa por alimento com os insetos de sua casa.

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19.9.07

Nós aqui dentro da bola azul

Hoje qro falar da relação homem/natureza, numa concepção que considera um e outro coisas mesmas. Prometo tentar fazer desta a última vez que escrevo a respeito disto pois a simples afirmação de que homem e natureza são a mesma coisa já denota a possibilidade de separação do homem e do ambiente.

Esta reflexão que escrevo aqui me veio hoje de manhã ao ler um artigo que defendia a construção de novas formas de relação dos homens entre si e com o ambiente que integram, algo extremamente comum em textos que abordam a crise paradigmática por que passa a espécie humana. Crise esta culpada pelos dilemas contemporâneos e pelos problemas socioambientais globais.

O artigo, que fala sobre a EA no processo de gestão ambiental, aborda as relações sociais e com o ambiente como coisas distintas uma da outra. Se considerarmos que homem e natureza não são coisas diferentes, podemos então afirmar que o desencantamento da humanidade provocado pelas máximas do consumo e da competitividade é uma dimensão fundamental das problemáticas globais contemporâneas.


Assim sendo, fica fácil compreender que o ambiente pessoal, interno (ecologia humana), só se completa na relação com o Outro (ecologia social) e com o meio (ecologia natural). Em outras palavras, é a interação entre o ambiente interno e o ambiente externo que caractreiza a personalidade das pessoas, moldando valores e comportamentos. Se torna, dessa forma, incoerente a concepção das relações sociais como algo distinto das relações com o meio.

É bem simples. O equilíbrio ecológico depende de harmoniosa e sadia interação de todos os elementos, bióticos e abióticos, que compõem o meio ambiente. Entre todos os níveis de complexidade da realidade, as conexãos devem estar estabelecidas, permitindo a ocorrência dos fluxos de energia e recursos.

Nas sociedades humanas, além de energia e recursos, os fluxos transportam também afeto e informações. São os fluxos e elementos básicos das relaçoes humanas. Sem a troca de informações e afeto, as sociedades trilham um caminho que tem o colapso atrás da porta final. Desencantadas e em crescente desconexão, as relações sociais representam dimensão central das problemáticas socioambientais.

Falta de afeto e centralização na produção de informações e conhecimentos são, ao meu ver, os elementos fundamentais da crise global. As pessoas não mais trocam olhares e carinhos. As grandes corporações midiáticas centralizam a produção e distribuição de informações.

O acesso a recursos (o maldito dindin) e energia (alimentos, água) é afetado em decorrência dos outros laços rompidos, citados anteriormente. Mas são considerados mais importantes que um abraço ou uma boa conversa.

Se queremos pensar em intervir enquanto cidadãos para a construção de sociedades sustentáveis, é fundamental a consolidação de novos padrões de relacionamento, buscando conexões harmoniosas entre as pessoas. Então não basta fazer reciclagem, plantar mudas de árovres e coisas do gênero,mas literalmente mudar a casa (oikos), sendo que a primeira casa de toda pessoa é sua mente.


Se queremos pensar em soluções para os problemas globais, precisamos compreender que, em toda esta diversidade que vemos, somos apenas uma bola azul que flutua no universo.

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14.8.07

Universo simbólico e o espantalho gramatical


No Brasil, a Educação Ambiental é um campo construído historicamente como a prática educativa do movimento ecológico. A estratégia de permanente questionamento e desconstrução dos padrões de relações e enraizamento dos valores, preceitos, princípios éticos, formas de visões e linhas de pensamento do movimento ambientalista que, complexo em si mesmo, possui diversas correntes.

Por aqui, a EA foi lapidada e fortalecida fora do contexto escolar. Delineando-se como um movimento de educação popular, configura uma espécie de subsistema do movimento socioambientalista que, ao tomar contornos deste, com sua crítica radical aos padrões tradicionais de relações pessoais, públicas, espirituais etc, se apropria de termos, conceitos, teorias e linhas filosóficas comuns aos ecologistas.

Esse processo histórico estabeleceu um universo simbólico e conceitual do movimento socioambiental, que exerce uma função aglutinadora, identitária, estabelecendo laços simbólicos e códigos comuns entre os militantes. Mas alguns acontecimentos recentes suscitaram reflexões sobre até que ponto tal universo simbólico é positivo e quando começa a ser um complicador.

Após o III EEEA – Encontro Estadual de EA de São Paulo, alguns feedbacks de pessoas que foram ao evento apresentaram um certo desconforto.

O encontro era o ponto culminante do processo de consulta pública à minuta da Política Estadual de EA, reunindo profissionais da EA das antigas e muitos jovens altamente engajados. Mas reuniu também muitos professores e jovens curiosos e interessados em conhecer melhor este campo que emerge em importância com a deflagração dos problemas ambientais na atualidade. Destes últimos, alguns disseram sentir-se perdidos no meio de tanta siglas desconhecidas e termos diferentes com os que estão acostumados.

REPEA, CJs, REJUMA, REABS, RUPEA, Coeduca, Cescar, Coletivos Educadores, Redes, socioambiente, pensamento holístico, sistêmico, comunidades de aprendizagem, ecoalfabetização, agenda 21, carta da terra, Tratado de EA para sociedade sustentáveis e responsabilidade global... e por aí vai.

Este universo conceitual acaba desenvolvendo uma função de duas mãos. Ao mesmo tempo que dá um certo sentido de coesão e serve como forma de distanciar das raízes culturais hegemônicas, entranhadas de valores capitalistas, patriarcais, industriais, as experiências dos últimos dias demonstraram que este universo conceitual pode também ser uma barreira para a participação de novos atores nesta cena.

E depois do boom das redes então, somada à forte ligação que o movimento ambiental estabelece com este padrão organizacional, surge também uma constelação de siglas que passam integrar esse universo simbólico e conceitual, fazendo-se presentes do cotidiano dos atores sociais envolvidos com a área, complicando ainda mais sua compreensão.

A Educação Ambiental assume uma postura altamente integrativa, até mesmo pelo viés transdiciplinar da temática socioambiental, que permite interfaces com inúmeros outros temas. Se propõe a dialogar com todos os grupos possíveis, tentando deflagrar processos de reflexão individual e coletiva sobre a postura que temos assumido perante Gaia e o que isto tem significado, com o intuito de construir novas percepções da realidade e novas formas de pensamento, alinhadas com os princípios da sustentabilidade.

Mas para ajudar a construir o “outro mundo possível”, a educação ambiental não deve descuidar da sua capacidade de agregação de novos agentes. Sobretudo nestes eventos, um risco muito grande é cairmos na arrogância do jargão.


É um verdadeiro paradoxo que nos suscita um importante questionamento: como manter e fortalecer esses laços identitários, que carregam uma crítica direta aos padrões de consumo e de relacionamento dos humanos entre si, com as outras formas de vida e com o ambiente e que, portanto, trazem grande potencial de permear novos símbolos no imaginário coletivo, sem que isso se torne um "espantalho gramatical" do movimento?

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2.8.07

Juventude sociambientalista cobra posição de Graziano sobre Tijuco Alto

Cerca de 50 jovens com idades a partir de 17 anos, integrantes dos Coletivos Jovens Caiçara e Caipira / REJUMA – Rede da Juventude pelo Meio Ambiente e Sustentabilidade e outros grupos, pressionaram o secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Xico Graziano, a se posicionar oficialmente sobre a construção da Barragem de Tijuco Alto, no Rio Ribeira de Iguape.


A juventude socioambientalista, composta também por moradores do Vale do Ribeira, conversou com Graziano no dia 28 de julho, em São José do Rio Preto, após a Plenária Final do III Encontro Estadual de Educação Ambiental (EEEA). Os educadores e educadoras ambientais e instituições, redes e coletivos presentes no encontro aprovaram uma moção de repúdio à construção da barragem de Tijuco Alto, apresentada pelo CJ Caiçara.

O secretário se esquivou e afirmou que não deve tomar posição oficial no caso. “A Secretaria não tem posição quanto a essas questões. Nós não temos e não deveremos nesse momento ter”, declarou. Justificou dizendo que não poderia se posicionar em relação a algo que compete a outro órgão, no caso o Ibama, responsável pelo licenciamento. Entretanto, disse que, se for possível compensar os impactos, pode haver até “ganho ambiental”.

A cobrança foi realizada um dia após o governador José Serra vetar o Projeto de Lei que transformava o Ribeira de Iguape em Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental do Estado de São Paulo. Quanto ao PL, um assessor de Graziano informou que a propositura não pôde ser aprovada porque o Rio Ribeira de Iguape, estando nos territórios de São Paulo e Paraná, é um rio Federal. Neste caso, o projeto deve sair do legislativo federal.


O Secretário conversou com os jovens após manifestação durante a plenária final do III EEEA. Portando cartazes e mudas de árvores, repesentando a vida, e entoando frases como "Terra sim! Barragem não!" e "Terra pra plantar e não pra alagar!", a juventude demonstrou amplo descontentamento com o andamento do processo de licenciamento da Barragem de Tijuco Alto. Durante as audiências públicas, os argumentos das comunidades e os dados técnicos apresentados por pesquisadores, comprovando os altos impactos sociaoambientais e culturais que causaria o empreendimento, não estão sendo levados em consideração.


Durante a conversa, que durou pouco menos de dez minutos, Xico Graziano falou que não tem informações técnicas sobre as comunidades tradicionais que habitam a região. Apesar disso, afirmou também que a SMA possui técnicos que conhecem muito mais sobre o caso até do que os jovens que moram na área.

Disse também que não vai se esquecer daquele papo.

Confira mais abaixo toda a conversa da juventude socioambientalista com o secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo.

Contexto
Único rio federal sem intervenções em seu curso com a construção de barragens, o Rio Ribeira de Iguape está na maior área contínua de preservação de Mata Atlântica do país. Hoje um empreendimento privado, a barragem de Tijuco Alto, põe em risco a área, considerada Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO.

Tijuco Alto é um projeto da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), do Grupo Votorantim. A proposta é gerar energia para a produção de alumínio em sua fábrica no atual município de Alumínio, antigo distrito de Mairinque. A resistência das comunidades locais e das organizações socioambientais tem evitado a concretização do projeto.

Com planejamento de 153 m de altura e 65 km de extensão para geração de 150 MW de energia, a barragem de Tijuco Alto foi considerada a maior ameaça à complexa diversidade socioambiental e cultural do entorno do Rio Ribeira de Iguape.

Já foram realizadas diversas manifestações populares contrárias ao empreendimento. O Relatório de Impacto Ambiental, confrontado com dados técnicos dos impactos que provocaria a barragem, mostrou-se inconsistente. Ainda assim o risco do Ibama aprovar o licenciamento é muito grande, já que o Ministério de Minas e Energia é favorável à construção.


Conversa com Xico Graziano

Bruno (Itanhaém) - Em nome dos Coletivos Jovens Caiçara e Caipira de Meio Ambiente e Rejuma - Rede da Juventude pelo Meio Ambiente, nós queremos saber a posição da Secretaria de Meio Ambiente e do Governo do Estado de São Paulo sobre a construção da barragem de Tijuco Alto e sobre a transformação do Rio Ribeira de Iguape num Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental.

Xico Graziano - “A secretaria de meio ambiente só tem uma função na vida, que é proteger o meio ambiente paulista. O que for possível pra exercer esse poder na fiscalização ou nas ações ambientais de São Paulo, nós existimos pra isso. Nós não permitiremos que ações sejam feitas com prejuízos ambientais, ou com problemas ambientais que não possam ser mitigados. É assim que estabelece a legislação brasileira. Às vezes você vai construir uma rodovia, como o Rodoanel, em São Paulo. Ele corta a região do Guarapiranga. Então, pra permitir ao Rodoanel existir você exige uma série de compensações ambientais que eles foram obrigados a fazer. A mesma coisa com o aeroporto. Vai precisar construir mais uma pista lá em Cumbica. Então tudo bem, você precisa da pista, só que vai construir num local que tá lá a vegetação, um pequeno córrego. Tem que fazer a mitigação, a compensação. Tem que saber como é que o dano ambiental, nesses casos inevitáveis, como é que ele consegue ser controlado e acaba tendo, ao invés de prejuízo, ganho ambiental. Se for incompensável as obras não podem ser feitas.

JNI* - Mas os impactos no Rio Ribeira de Iguape serão enormes. Não tem como compensar a perda de uma riqueza como aquela!

Graziano - Quem diz isso é o EIA-Rima.

Lohan (Cananéia) - O EIA-Rima foi feito pela CENEC, o mesmo pessoal que era da Camargo Correia, que já fizeram barragens com falhas. O Vale do Ribeira é o que sobra de Mata Atlântica aqui no nosso Estado. Durante as audiências públicas, todo mundo viu, foi uma grande palhaçada, o Ibama presenciou! Eles ficaram sem resposta para todos os argumentos técnicos...

Graziano - O licenciamento é o Ibama que está fazendo. Se estivesse na nossa Secretaria eu teria que ter uma posição um pouco mais decisiva talvez. Mas nesse caso o licenciamento é do Ibama. Nós estamos acompanhando. Nós tínhamos muita gente lá nessa audiência. Haviam projetos de três barragens. Duas delas eram inaceitáveis. E de cara já foram abandonadas. Resta agora a de Tijuco Alto. O Ibama diz, esse problema quem resolve sou eu. Tirou do Estado de São Paulo, vocês sabem disso. Então nós estamos lá, acompanhando o resultado das audiências.

Vanessa (São Vicente) - Mas o Governo do Estado dever ter uma posição...

Lohan – O Ministério de Minas e Energia teve um posicionamento totalmente tendencioso...

Graziano - Vamos acompanhar as audiências. Outras audiências serão feitas... Isso nós temos que, nesse caso, em alguns casos. Foi como o projeto de lei. Você tem que seguir a legislação brasileira. Não adianta, a gente que é órgão público. Se tomar medidas, ou posições, ou ações que não têm fundamentação legal, vem o Ministério Público e te bota uma ação na cabeça. Então, essa questão da responsabilidade, de quem tá no poder público, às vezes você não é capaz de fazer o que gostaria porque não tem respaldo legal para isso. O Projeto de Lei tem esse problema, no caso, a base legal dele era muito frágil. Então não pode ser sancionado. Se o governador fizesse isso ele cometeria um problema. No caso também desse licenciamento que está sendo feito, como o Ibama tomou a si esse processo, nós estamos acompanhando, vendo que ele seja feito da melhor forma possível.

Thomas Enlazador (Olinda - PE) - Mas o peso do senhor, Secretário, é muito grande. Se o senhor já se posiciona politicamente contra uma agressão ambiental histórica que está sendo barrada há muitos anos... A discussão de Tijuco Alto já, desde a época do Fabio Feldman...

Graziano - Mas se é do jeito que você está dizendo o EIA-Rima não será aprovado. Porque a análise, o Estudo de Impacto de Ambiental mostra exatamente isso. Quais são os impactos ambientais, e como esses impactos ambientais podem, ou não, ser mitigados, serem amenizados, e quais compensações devem ser feitas. Essa é legislação. Esse é o EIA-Rima. Não quer dizer que não tem impacto. Sempre haverá impacto. Em qualquer coisa, inclusive no nosso caminhar. Andar de carro, vir fazer um Congresso desses... Existem impactos associados a todos eles.

Bruno - Tudo bem, secretário, mas qual a posição da Secretaria de Meio Ambiente sobre a construção da barragem de Tijuco Alto e sobre a transformação do Rio Ribeira de Iguape em um Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental?

Graziano - A Secretaria não tem posição quanto a essas questões. Nós não temos e não deveremos nesse momento ter.

Bruno - Não devem ter?

Graziano - Não. Não deveremos ter nesse momento posição sobre isso.

Bruno - E o motivo?

Graziano - Hãn?

Bruno - O motivo de não dever ter...

Graziano – É, não dever ter.

Cleber (Cananéia) - Você acabou de afirmar que o papel da Secretaria de Meio Ambiente é proteger o Meio Ambiente. Então dever ter um parecer.

Graziano - Proteger o meio ambiente não significa ter a mesma posição que vocês. COncordam com isso?

Bruno - Mas tem que ter uma posição.

Graziano - Não necessariamente. Minha posição é em defesa ambiental.

Lohan – Ou em defesa do dinheiro do Antõnio Ermírio de Moraes?

Graziano – Imagine.

Thomas - A Secretaria de Estado vai seguir a mesmo política desenvolvimentista do Governo Federal? Será que é esse o caminho?

Graziano - Acompanhem. Viram aqui hoje, tão vendo o que está acontecendo.

JNI - A gente não quer só acompanhar. A gente quer participar!

Graziano - Não sejam intransigentes. Defendam o seu ponto de vista...

Vanessa - Não é ser intransigente. Vocês representam o povo, e o povo não quer!

Graziano - Façam o que vocês estão fazendo. Continuem fazendo o que vocês estão fazendo, vocês estão certos. O mundo se move assim mesmo. Vamos ver...

Bruno - Mas pro mundo se mover de forma realmente democrática, atendendo as necessidades da maioria, a maioria precisa ser ouvida. E a maioria tá se manifestando. As populações locais estão se posicionando contra, a nação apóia, e mesmo assim, isso está encaminhando pra que saia. Por isso a gente pede uma posição.

Graziano - Eu não sei se está encaminhando pra que saia. De qualquer forma as audiências estão acontecendo...

JNI - Já aconteceram...

Graziano - (...) e as manifestações são muito fortes, contrárias, não é? Nós gostaríamos que nenhum rio tivesse mais hidrelétricas no Estado de São Paulo. Agora, essas decisões, tem as vezes outras influências. E nesse caso, o Ibama solicitou que ele fosse o responsável. E eu não posso, como homem público que sou, não posso ter uma posição se é um outro órgão que está fazendo. Vocês têm que entender isso. Não cobrem de mim o que eu não posso dar. Acompanhem as coisas como vão acontecer.

João Malavolta (Itanhaém) - E o senhor, sem ser instituição, como ser humano e cidadão. É a favor da construção?

Graziano - Eu não sou a favor de nenhuma barragem, hidrelétrica, antes de mais nada, porque sou um pescador.

Jovens - (gargalhadas)

Graziano - E sempre fui a vida toda. E sou um apaixonado pela natureza. Mas não é essa a questão. A questão é sobre as decisões públicas. Esse país vai enfrentar um apagão de energia daqui dois anos.

JNI - Se isso vier a acontecer, o senhor vai ficar chateado, vai tomar alguma decisão, ou vai aceitar numa boa?

Graziano - Não entendi a sua pergunta.

JNI - Se a barragem for construída. O Senhor disse que não é a favor como pessoa. E o senhor vai engolir isso?

Graziano - Se por ventura isso for necessário fazer e os danos ambientais que ela causará puderem ser mitigados ou compensados...

Vanessa - As comunidades Ribeirinhas não podem ser compensadas!

Graziano – Mas eu não tenho informações sobre isso. Técnicas.

JNI - Mas deveria ter!

Vanessa - As pessoas moram lá!

Bruno – Nós temos...

Graziano - Mas eu não tenho... eu não consigo saber de tudo.

Cleber - A Secretaria de Meio Ambiente não é a que protege?

Graziano - A SMA tem muita gente que sabe disso mais que vocês, podem ter certeza. Mas o posicionamento oficial da secretaria é outra coisa.

Lohan - Mais que as comunidades tradicionais eu tenho certeza que não!

Vanessa - Uma coisa é ir lá. Outra coisa é acordar e dormir lá. Viver lá.

Graziano - Nós estamos acompanhando. Nós temos técnicos que trabalham nesse assunto a mais de dez anos. Esse caso vem lá de trás, há mais de vinte anos. Desde a época do Montoro esse assunto já apareceu com as três hidrelétricas. Duas são completamente malucas. Esta tem um estudo que está com possibilidade de ser analisado. Eu não sei qual vai ser o fim disso. E eu não posso, e não devo, expor uma posição oficial da Secretaria sobre esse assunto. Ok?

Bruno - Ok.

Graziano - Mas eu não vou me esquecer dessa conversa que tivemos aqui hoje.

Vanessa - Até porque a gente não vai parar por aqui.

Graziano - Muito bem! Não parem, não parem.

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24.7.07

Diversidade na mudança

Do fundão vozes ressoam
quase nunca valorizadas
tudo vale, tudo é útil na inclusão,
na pluralidade da ampla participação

Vamos falando baixinho e chegando
mais perto, devagarinho,
um processo diferenciado,
lento, participativo, pensado.


Radical é o geral,
das partes pro todo e todo para as partes,
tudo junto misturado
se constrói a sólida arte.

A beleza de um rio está na sua complexidade,
o valor de uma pessoa está na sua vontade,
de fazer melhor e fazer diferente,
de tentar mudar agora com olhar à frente.


Arte é vida, vida é arte.
ilusões e fantasias, fenômenos e realidade
aquele que ama a vida tem como
premissa a diversidade.

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Notícias do III EEEA
Começa amanhã e vai até o dia 28 de julho, em São José do Rio Preto, o III EEEA - Encontro Estadual de Educação Ambiental - "Nas águas a EA: produções e políticas". É o ponto culminante do processo de consulta pública à minuta PEEA - Política Estadual de Educação Ambiental, que vai definir como deverá ser implementada a EA tanto no ensino formal quanto informal. Vai reunir educadores e educadoras ambientais de todo o Estado de São Paulo para pensar a construção da PEEA.

Esses eventos são extremamente ricos. Nos permitem o contato com experientes educadores ambientais, como com aqueles que estão começando a se interessar pela área, a enxergar o grnade potencial emancipatório e transformador que tem a educação ambiental.

Nos próximos dias pretendo registrar aqui com fotos, entrevistas, depoimentos e relatos um pouco dos bastidores do evento. Personagens da construção da PEEA, as conversas de corredor, momentos marcantes, as personalidades presentes, impressões de jovens e adultos, experientes e inexperientes etc.

Até lá!

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2.7.07

Pra você, o que é ser jovem?

Esses dias chegou um e-mail na minha caixa postal com a seguinte pergunta: "Pra você, o que é ser jovem?"

A pergunta faz parte de uma enquete que a ONG Aracati está promovendo para integrar um material destinado a Gestores Públicos sobre Políticas Públicas de Juventude. A resposta necessitava ser sintética. Fiz o possível para ser curto e grosso e ao mesmo tempo não ser totalmente superficial.

Minha resposta foi a seguinte:

"É viver uma instabilidade potencializada pela formação cognitiva, ética, espiritual, corporal e inserção ao sitema social. É viver uma grande responsabilidade, pois indívíduos em construção têm mais chance de construir um coletivo diferente. Ser jovem é ser considerado flecha, apesar de viver intensamente como flecha e como arco."

E pra você, o que é ser jovem?

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28.6.07

Costurando e construindo idéias no MSN

Sabe daquelas conversas muito boas que depois você fica se dizendo que gostaria de tê-la arquivada em algum lugar para posteriormente rever?

Pois então, dia 23 de junho eu e a Dani, uma amiga de São Paulo, batemos um longo papo por MSN. Estamos fazendo um curso na ONG Ação Educativa sobre “Cidadania e Direito à Educação”, voltado para o estudo da legislação educacional. Partindo de alguns acontecimentos do curso, conversamos sobre pensamento sistêmico, epistemologia e pardigma tradicionais, padrão rede de organização, educação escolar e educação popular, verticalismos... Uma conversa riquíssima!

São nestes “encontros” da vida que descobrimos o quê e quem somos, nossos valores, princípios... É também nestes encontros que articulamos nossas próprias idéias, a partir da idéia do outro. Hoje as tecnologias da informação e da comunicação nos permitem encontros diferenciados.


Nós Educadores Ambientais muitas vezes conversamos muito entre nós. É bom trocar essas idéias com "não convertidos". A Dani meu autorizou a publicar nossa conversa. Creio ser uma forma diferente de propor reflexões...

Obrigado e um bjo, Dani! ;)
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Dani – agora me conta como funciona o projeto [EcoCidadania, que estamos desenvolvendo em Peruíbe], tem ações tipo limpar praia, essas coisas? Ou é de discussão / Educação ambiental?

Eu – Educação ambiental. Limpar praia pode ser educação ambiental também. Se não se limitar ao mutirão, mas a um processo de mobilização e incentivo do exercício da cidadania... mas não consiste nisso não.

Dani – Sobre limpar a praia, sei que faz parte de uma conscientização.

Eu – Não, não. Se for elaborado pelos próprios jovens, e não só colocá-los pra catar lixo, faz parte de um processo que integra mobilização, mediação de interesses, capacidade de defender sua opinião, se expressar, planejar, organizar, envolver parceiros etc. Emancipação pura. Empoderamento para a ação!

Dani – É que isso já faz parte naturalmente da ação, no meu entendimento. Como participei da pastoral da juventude, que tem o princípio do protagonismo juvenil, não consigo imaginar diferente disso. Ainda mais te conhecendo tb...

Eu – Ahaha! Pois então, limpar praia também pode ser uma ação emancipatória. Mas acontece... e muito!

Dani – Bem, sei que gosta dos debates, das trocas de idéias, de planejar juntos... Até porque vive participando de “Encontros”... rsrs.

Eu – Ahuahu... Mas é! E tu também. Tua vida não é feita de encontros?

Dani – Mas é que na verdade, também por minha vivência com a pastoral da juventude, sinto falta de ações mais “mão na massa”, entende? Na PJ a gente debatia bastante, mas pra mim faltavam ações mais concretas.

Eu – O grande lance é esse. Fazer do processo educador um lance que articula a organicidade e o popular, com o erudito e sistematizador. Mas sei lá, o povo naquele curso não me entende quando eu falo de dialética entre educação popular e escolar...

Dani – Basicamente isso, teoria e prática juntas, se complementando.

Eu – Exato, o planeta não é um sistema de elementos interdependentes? Os processos cognitivos também. Por isso que hoje se fala bastante em transdisciplinaridade.

Dani – Mas nem eu entendo direito como está pra você este conceito. Como você vê esta possibilidade acontecer?

Eu – Hahaha! Simples, professor parar de achar que sabe mais que aluno e pai de aluno. Valorizar os conhecimentos anteriores como potencial de ampliação de visões e perspectivas. Processos participativos dentro da escola, envolvendo de forma horizontal e igualitária todos os atores escolares, do gestor ao tio da pipoca. Simples nem tanto neh... ahaha

Dani – Ah, ta! É simples sim... É só querer democratizar o espaço, surgem alguns problemas, mas também muitas possibilidades.

Eu – Charammmm!! Os problemas, surgem por quê?

Dani - Porque é difícil estabelecer limites.

Eu – Porque a nossa própria estrutura cognitiva é permeada de verticalidades... epistemologia tradicional. Olha os pressupostos, já conversamos sobre isso: objetividade, simplicidade e estabilidade.

Dani – Não, é que as pessoas têm características diferentes de personalidade.

Eu - Falei em organicidade, não falei lá em cima?

Dani – Que tem isso? Você usa um palavreado difícil de conceituar...

Eu - Pensa que o planeta é um organismo complexo justamente pq tem 30 milhões de espécies diferentes vivendo em harmonia, que através de suas relações de interdependência estabelecem um equilíbrio dinâmico. Ou seja, que desequilibra mas se realimenta e equilibra novamente e assim por diante.

Dani – O que quer dizer com estabilidade também?

Eu – Estável, estático. Por que, então, não podemos conviver com nossas diferenças??? Por que nossas diferenças têm de ser consideradas problemas e não solução??

Dani - Ah... é por isso que eu disse que surgem possibilidades e não só problemas. Por causa dessa dialética equilíbrio-desequilíbrio

Eu – Então começamos a amarrar as idéias... Agora, o processo de construção de conhecimento, os processos cognitivos... antes de construir, não desconstrói?

Dani – Sim, filho... rsrs

Eu – É a mesma coisa!!

Dani - É isso que tô falando... É que quando fala de educação popular e escolar parece outra coisa. Dá outra idéia. Agora que se explicou melhor, é exatamente o que eu acredito. E penso que muita gente ali do curso também.

Eu - Não, não é a mesma coisa... Sabe por que? Olha essa fase do Paulo Freire: "Ninguém ignora tudo, ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre". /Por exemplo, aquela professora Flavia Schilling falou lá no curso que a escola é a única instância capaz de perpetuar o conhecimento geração após geração. Não é a mesma coisa...

Dani – Eu não, entendo como educação escolar mesmo. A definição de educação popular eu entendo como "educação não formal". Quem é essa Flávia? Não me lembro. / Então, mas a educação popular do Freire é a escolar.

Eu - Tu não foi nesse dia. É uma professora da USP. Ela falou isso. / Ãhnn!??

Dani – Mas se ela acredita mesmo nisso, tá faltando ela olhar ao redor da escola. Mas deve ter sido em outro sentido, não?

Eu – Pois é, mas é uma professora da USP, convidada por uma instituição gabaritada como a Ação Educativa, e que falou isso pra 40, 50 professores... dá pra acreditar nisso?? Juro que eu achei isso muito estranho. Aí quando abriu pras perguntas questionei se tinha sido exatamente isso q ela tinha dito. Ela confirmou. Aí falei que pra mim ela estava completamente equivocada e que isso desvalorizava, por exemplo, todas as culturas tradicionais que não tem hábitos letrados. Uma visão totalmente eurocêntrica!

Dani – E o que ela respondeu?

Eu - Na hora nada... Depois que terminou ela veio me falar que falou isso porque a escola é a instância que sistematiza o conhecimento e permite a sua perpetuação histórica. Só que repito, ela falou isso pra 40 professores, uma professora da USP. E ainda confirmar depois... véio, ela tá formando professores! Aí esse povo sai de lá achando que é por aí mesmo... Então a gente chega numa questão seriíssima. Óia o tipo de pensamento que baseia uma profissional que forma educadores.... Que, por ser professora da USP todo mundo fala óóóóó.

Dani – Por que num disse isso pra todo mundo?

Eu – Vai saber... neh!

Dani – É, até porque existe uma perpetuação histórica também de culturas pautadas na oralidade...

Eu – Exato!!! Aí a gente volta lá trás... “Como você vê esta possibilidade acontecer? Hahaha! Simples, professor parar de achar q sabe mais q aluno e pai de aluno. Valorizar os conhecimentos anteriores como potencial de ampliação de visões e perspectivas. Processos participativos dentro da escola, envolvendo de forma horizontal e igualitária todos os atores escola, do gestor ao tio da pipoca."

Dani – É, tem um povo "intelectualista" mesmo lá na USP.

Eu – Total! Acadêmico...

Dani – Equívocos, como você disse... por isso que normalmente sinto falta de "prática"... rsrsrs

Eu – E se pensar então no princípio básico do Coletivo Jovem essa Flávia surta! Jovem educa jovem... Hahaha! Educação popular segmentada! Vai falar isso pra ela... Então, o projeto é a minha prática. Jovem educando jovem, com base nesses pensamentos todos.

Dani - Bom, ela já deve saber que existe, só num deve ter vivenciado... Daí fica construindo "verdades equivocadas".

Eu – Pois é.... Aí tu pensa, se essa mulher tá formando educadores e pesquisadores e teóricos da educação, qual tipo de pensamento que está se disseminando? É um círculo de realimentação. Um sistema auto-replicante, ou auto-poiese, igual os sistemas naturais. Haha!! É muito doido isso...

Dani – Aii!!! Qdo você fala na linguagem "naturalista" vai ficando mais difícil de entender... rsrsrs

Eu – Hahaha! Já ouviu falar em ecoalfabetização?

Dani – Não, mas pelo jeito tô precisando... kkkkkkkkk

Eu – Ta, olha isso... “consiste na conscientização ambiental que deve partir de uma reconexão do ser humano com a "teia da vida" (CAPRA, 1996, pag 231), retomando os ensinamentos que a natureza lhe argüi, ecoalfabetizando-se. Ser ecologicamente alfabetizado, ou ecoalfabetizado, significa entender os princípios de organização das comunidades ecológicas (ecossistemas) e usar esses princípios para criar comunidades humanas sustentáveis. Assim, se faz necessário fazer com que as comunidades humanas se ecoalfabetizem, para que esta possa rever a reconsiderar os seus valores (administrativos, políticos e educacionais, econômicos), quebrando os velhos paradigmas mecanicistas/positivistas estabelecidos, de modo a permitir uma nova possibilidade de convívio humano baseado na eqüidade biocêntrica.”

Dani – Agora me explica: os jovens entendem sua língua? Rsrs.. Bom, acho que é isso mesmo que você faz.

Eu - Biocentrismo... a vida é o centro!

Dani - Aha! Aprendi por outra linguagem, mas já estou ecoalfabetizada!

Eu - Aí olha essa outra frase do Paulo Freire... “O sujeito pensante não pode pensar sozinho; não pode pensar sem a co-particpação de outros sujeitos no ato de pensar sobre o objeto. Não há um ‘penso’, mas um ‘pensamos’. É o pensamos que estabelece o penso, e não o contrário. Esta co-participação dos sujeitos no ato de pensar está na comunicação. O objeto, por isso mesmo, não é a incidência terminativa do pensamento de um sujeito, mas o mediador da comunicação”.

Dani – Paulo Freire é o cara mesmo. Mas qual a relação que você faz com o que tava dizendo?
Eu – A relação é com o padrão organizacional rede, em que o foco está nas relações e não nos elementos... O que o Paulo Freire diz é que a sua educação não se dá em você, mas numa linha invisível chamada comunicação... Tu nunca pensa, mas pensamos... E se o foco não está na pessoa, mas nas relações que a gente estabelece, não há hierarquia!

Daní – Eita, vejo seu olho brilhando falando disso... rsrs

Eu - Ahaha... agora entende porque educomunicação?

Daní – Acho que inicialmente sim... rsrs

Eu – rsrsrs

Dani – Mas, num sei porquê, tenho a impressão de que você ainda vai me trazer muito mais elementos a respeito... rsrs

Eu – Ahaha! Com certeza... to aqui pra isso! Aah...e quanto aos jovens, eu procuro pesar a linguagem de acordo com as pessoas com quem estou lidando são capazes de compreender! Agora, com relação à professora Flavia Schilling, olha esta outra frase: "Existe uma interação dinâmica, dialética, entre sociedade e educação, ou seja, a educação reflete, como um espelho, os valores de uma determinada sociedade ou cultura". Ou seja, paradigima, epistemologia... Refletida na educação. É óbvio, mas ás vezes a gente não se atém ao fato de que a educação é um processo que pode ser editor ou reprodutor. Se é reprodutora a gente volta lá na autopoiese... um sistema autoreplicante!

Daní – Ah é!

Eu - Pois é! Aí tu pensa de novo, “se essa mulher tá formando educadores e pesquisadores e teóricos da educação, qual tipo de pensamento que está se disseminando?” É um círculo de realimentação... ou autopoiese.

Dani - Então... a luta é difícil rapaz.

Eu - A luta é um processo...

Dani – Porque a sociedade tá sempre se realimentando de conceitos equivocados e fragmentados.

Eu - Lembra dos pressupostos epistemológicos tradicionais? Estabilidade, simplicidade e objetividade. Hahaha!

Dani - Num precisa falar tão difícil, mas é isso mesmo. Só me explica a idéia de estabilidade.

Eu - Aah tah... Quantas vezes tu não ouviu alguém falar: “as coisas são assim mesmo, não tem jeito”? A idéia é de que existe linearidade na vida. Impossível conceber isto se tu parar pra pensar na tua própria!

Dani - Claro! É justamente o contrário de estabilidade! É movimento...

Eu – Então, equilíbrio dinâmico! Processo cognitivo que desconstrói pra construir... Objetividade: foco na pessoa. O Paulo freire, com aquela frase, já explicou bem q não é por aí neh? Vou acabar te deixando doida desse jeito... ahaha

Dani – Não mesmo! Não é difícil, pq acredito nesta interdependência tb. Só não entendi pq estabilidade, equilíbrio dinâmico faz mais sentido.

Eu – Física...

Dani – Ah!!!!!!!!! Agora tá explicado! Física eu num entendo mesmo! kkkkkkkkkkkkk

Eu - Descartes e Newton: o planeta como máquina. As máquinas são estáveis... mas não são vivas.

Dani – Agora sim você quer me deixar doida... hehehhe

Eu – Ahuahu! É porque eles concebiam o planeta como máquina. Pensa nos pressupostos. Objetividade: os componentes das máquinas estabelecem relações lineares. Não dependem do outro pra funcionar direito...

Dani – Já que falou dos 2, explica a simplicidade também

Eu - Simplicidade... Quanto mais fragmentado, mais em partes, mas fácil de estudar, só q aí tu elimina as relações que o objeto de estudo estabelecia com os outros elementos... interdependência. Tipo o corpo humano: o cara tira o coração pra estudar, mas o coração só exerce exatamente seu propósito, da forma que é de verdade, quando se relacionado com os outros órgãos...

Dani - Você já assistiu "Ponto de mutação"?

Eu - Ainda não... sou doido pra assistir!

Dani - Tudo a ver com o que tá dizendo!..........

Eu – Então... quero muito assistir! Tem um brother meu que falou que se eu assistir aí é que eu fico doido de vez! ahuahua

Dani – Acho que não. Quando você assistir, aí é que ninguém te segura nas suas crenças mesmo! Rsrs... Qual é o nome do que propõem no lugar dos "pressupostos epistemológicos tradicionais"?

Eu - Pensamento sistêmico.

Dani – Ah.........

Eu - Entender que a realidade é feita de diversos níveis de realidade sistêmica. Todos interconectados. Olha o brócoli da foto... [coincidentemente, minha foto no MSN era um fractal brócoli]. Olha essa foto com carinho.


Dani – Isso é um brócolis?

Eu - Aham... um lindo fractal!

Dani - Ah tá...

Eu – Dá uma busca no wikipedia por "fractais". O universo tem o mesmo padrão estrutural que um brócoli! Não é loko isso? Só que então, até agora a gente não falou de uma coisa muito importante e que também é extrema e diretamente afetada por tudo isso que a gente falou aqui... carinho. A afetividade. Algo extremamente importante se pensarmos que o planeta Terra é uma "comunidade de destino comum".

Dani – Vixi, agora sim pirei!

Eu – Hehehe! Agora, partindo dessa relação micro e macro. Tu já deve ter visto / ouvido aquela famosa frase do Ghandi: "Torne-se a mudança que quer ver no mundo".

Dani – Sim...

Eu – Agora veja esta paralela... "As estrutruras só se refletem na sociedade porque estão enraizadas em nós". Micro e macro. Como um fractal... Auto-replicante...

Dani – E onde entra afetividade?

Eu – Ãhn... objetividade. Foco nas pessoas, não nas relações. Se não dependo de ninguém posso ser individualista (neoliberalismo!!!). E, portanto, egoísta...

Dani – Então, no lugar da objetividade, afetividade?

Eu – Não... intersubjetidade.

Dani - Argh!!!

Eu – Aceitar as descrições e visões dos outros para construir a nossa. O “pensamos” estabelecendo o “penso”.

Dani - No lugar da simplicidade, complexidade?

Eu – Meu, vou até guardar esta conversa... muito boa! Exato!! Olha o fractal brócoli... diversos níveis sistêmicos interagindo dinamicamente e trocando constantesmente energias e recursos... complexidade!

Dani - No lugar da estabilidade, dialética?

Eu – Não não... instabilidade msm

Dani – Ah.........

Eu - Mas aí tu tem q incluir a intuição, o instinto... tudo isso na construção do conhecimento. Coisas que hoje a racionalidade repudia. Tipo, dizem que a logos - razão é a primeira instância do homem... Não é isso que os socráticos estabeleceram? Hoje caras como Leonardo Boff defendem que não, que a primeira instância do homem é a pathos - sensibilidade... primeiro nós sentimos, nos emocionamos com as coisas. Primeiro elas nos "afetam" de alguma forma, depois é que a gente racionaliza.

Dani – Claro!!!!!!!!!

Eu - Entendeu mais um pouco a relação com a afetividade?

Dani - Aham! Puxa! como é lindo um fractal! Rsrsrsr... Quando for comer brócolis, vou olhar com outros olhos.... rsrsrsr

Eu - Rsrs... tem vários tipos!

Dani - Vi na wikipedia uma outra foto mesmo... fiz toda lição de casa rapaz!

Eu - Boa garota... rsrs

Dani - Rsrs... Só num descobri do que se tratava porque num baixou a legenda... rsrsr... Gostei do nosso papo.

Eu - Ooo eu tb!!! Poucos são tão construtivos...

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24.6.07

Aproprie-se!

Marcelo D2 também pode ser Educação Ambiental.

Fração da música "Gueto"

G-u-e-t-o! ce sai do gueto mas o gueto não sai de você!
Re-vo-lu-ção! tudo que eu preciso e de um mic na mão!
E não preciso abaixar minha cabeça
E nem preciso falar mau de ninguém
O que eu preciso é me focar no meu trabalho
Me focar na minha família
Que ai o meu sucesso vem!
Rema rema
E não sabe o que quer
Pra quem não sabe que caminho vai, pega um qualquer!
Me diz ai!
Vai ficar sentado no gueto
Ou vamo ser parte de algo e escrever o enredo?

Você quer sair do gueto
Mais a sua mente é o gueto
Você quer fugir do gueto
Mas o mundo inteiro é o gueto

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18.6.07

Inação, Educação Ambiental e "um outro mundo possivel"

Um artigo publicado hoje no jornal Folha de São Paulo (Sob o signo de Cassandra - Marcelo O. Dantas - Pág 3) abordava uma questão bastante presente em nossa realidade: o conformismo, a alienação e a inação do povo brasileiro.

Nós educadores ambientais lidamos diariamente com processos participativos, afinal a democracia radical é um de nossos princípios, e realmente é perceptível que não existe no brasileiro uma cultura de participação. Isto, creio, poucas pessoas podem contestar.

Esta participação a que me refiro pode ser compreendida em sentido totalmente amplo. Se refere desde ao hábito de se posicionar em questões públicas, reivindicar, ocupar espaços de participação e mobilizar-se até àquela criança que não tem medo de se colocar, de fazer perguntas, de questionar o professor quando em grupo. O brasileiro, de uma forma geral, não tem este costume.


E não se trata de inépcia.


No texto, o autor faz uma analogia com a conhecida história do Cavalo de Tróia. "Tal como os cidadãos de Tróia, que, em sua exaustão, após dez anos de guerra, desdenharam dos alertas de Lacoonte [que avisou do perigo que representava adentrar à cidade de Tróia com o "presente"], assim os brasileiros parecem hoje cansados de lutar por um país melhor, encontrando desculpas de toda sorte para aceitar como corriqueira a série interminável de abusos que vêm sendo perpetrados por nossas classes dirigentes".


Os troianos, cansados e exaustos com os 10 anos de guerra, não pestanejaram. Aceitaram prontamente o "presente", sem questionar. Depois de colocá-lo para dentro da cidade, trataram de comemorar com uma festa farta de comidas e bebidas. No meio da noite, silenciosamente os gregos saíram do cavalo de madeira. Com os troianos bêbados e sonolentos, não encontraram muita dificuldade para destruir Tróia e resgatar a princesa Helena.

As pessoas no poder podem ser consideradas os gregos. Sempre que se vêem em uma situação ameaçadora inventam alguma artimanha para safar-se. Não importa o quão absurda é a artimanha. Uma das maiores características da classe política brasileira é a cara-de-pau.

Os troianos representam o povo brasileiro em geral. Cansado de tanta corrupção e impunidade, encontra argumentos para justificar o conformismo frente às bandalheiras cometidas pelas classes dominantes. O pensamento que vale é o de que não adianta fazer nada, afinal de nada vai adiantar.


Dia após dia os jornais chegam às bancas repletos de notícias sobre corrupção. São escândalos que até recebem apelidos. Muitas vezes mais de um escândalo estoura no mesmo dia. Como a sociedade compreenderia, se muitas vezes os mesmos sujeitos integram mais de uma bandalheira simultaneamente? Com os escândalos apelidados fica mais fácil das pessoas reconhecerem qual é a podridão de que se trata. Assim se evita confusão.


E nós, educadores ambientais. Qual o nosso papel frente esta realidade?


A situação se mostra tão enraizada que assusta. Quantas vezes não chegamos nas comunidades e identificamos diversos problemas socioambientais que para a própria comunidade não são problemas? Ou então problemas que não sabem como resolver e, portanto fazem o possível para se adaptar a ele. Não podemos dar às pessoas as respostas para todos esses problemas. Mas podemos mostrar a elas que, juntas, podem fazer muito.


E é isso que muitas pessoas não entendem na Educação Ambiental. Pensam ser uma modalidade educativa voltada a ensinar às crianças os nomes dos "bichos" e das plantas, ou a transmitir as técnicas da coleta seletiva e como se dá o processo de reciclagem.


O meio ambiente é composto também por todos esses acontecimentos torpes que somos obrigados a digerir diariamente. A Educação Ambiental deve criar condições para que as pessoas passem a participar ativamente deste ambiente. Da forma que preferirem, do jeito que acharem melhor. Isto é, empoderar. Afinal, só com a mediação e articulação das contrariedades, das diversificadas intenções e visões de mundo, das muitas dimensões que compõem nossa existência é que se pode pensar em construir sociedades sustentáveis. E isto só acontece em sociedades livres, autônomas e emancipadas.


Não se trata de incentivarmos o resgate da "luta de classes". Como falei, trata-se de mediar contrariedades. E assim, basicamente, mostrarmos às pessoas que os valores e idéias que embasam tais comportamentos podem ser reproduzidos, ou questionados a partir da construção de novos valores. Ou seja, que tal concepção de mundo não vai muito além do umbigo de cada um e que não participar é reproduzir tudo o que repudiamos.


Ao Educador Ambiental, cabe religar os laços que nos distanciam uns dos outros e de tudo. Cabe religar os laços que nos impulsionam a agir. Cabe acender, no interior dos sujeitos, aquela chama que diz que o mundo não é assim, mas que ele está assim. E que um outro mundo é possível.


Em resumo, fazer exatamente o contrário do que fazem histórica e sistematicamente as classes hegemônicas. Construir coletivamente argumentos para aceitarmos e compreendermos que o sonho não acabou e que podemos e devemos correr por ele. Sozinhos e com todos ao mesmo tempo.

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6.6.07

Para refletir

Discurso de Severn Suzuki proferido na Eco-92, quando tinha 13 anos de idade. É um soco na boca do estômago...

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31.5.07

Os aviões e as Rádios Comunitárias

A problemática ocasionada em São Paulo pela interferência, por parte de rádios comunitárias e piratas, em freqüências utilizadas para o contato entre torre de controle e aeronaves poderia servir de gancho para um debate aprofundado, elucidativo e construtivo com a sociedade. Mas como sempre, opta-se por culpabilizar os mais fracos ao invés de refletir sobre a raiz do problema.

Não se pode negar que tais veículos encontram-se em situação de ilegalidade e sujeitos às punições previstas em Lei. Isto é fato. Afinal funcionam sem permissão da Anatel e com freqüências que se sobrepõem ao sistema de segurança de grande parte dos vôos que são realizados no Brasil. Ao mesmo tempo não se pode negar que a legislação que trata das rádios comunitárias é altamente restritiva e, muito menos, questionar o importantíssimo papel que cumprem tais veículos nas comunidades onde atuam.

É mais fácil criminalizar as rádios do que questionar o porquê delas atuarem ilegalmente. O questionamento deveria ser considerada natural, afinal ninguém gosta ser adjetivado como "marginal e ilegal". Mas a corda estoura sempre do "lado mais fraco".

As pessoas não sabem, por exemplo, que os veículos de radiodifusão comunitária da capital paulistana tiveram de esperar mais de 8 anos para que o Ministério das Comunicações enviasse a habilitação, documento que permite a autorização do serviço em determinado município. Pois é, demorou de 1998, ano em que foi aprovada a Lei 9.612, até o final de 2006 para que tal habilitação chegasse. E enquanto isso, tais rádios ficaram impossibilitadas de legalizar suas situações.

É só um entre tantos outros exemplos. Mas que descortina a porta entreaberta que pode nos levar a reflexões mais embasadas sobre a questão.

Há um risco grande de, a partir da relação superficial que a grande mídia trata o tema, a sociedade demonizar as rádios e enxergar o fechamento delas como punição para "ilegais responsáveis". Isto é, a solução para o problema. Mas isto representa muito mais a busca por culpados do que por soluções propriamente ditas.

Aliás, a quem isto interessa?

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14.5.07

Mudanças no Ibama

FBOMS – Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais
para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento

Nota da Coordenação do FBOMS sobre as mudanças no MMA e no IBAMA

Frente às mudanças no MMA e no IBAMA anunciadas pela Ministra Marina Silva no final de abril e tratadas em reunião, no dia 2 de maio, na qual participaram o Secretário-Executivo e a Gerente-Executiva do FBOMS, assim como as seguintes entidades filiadas: ISA, WWF, Rede Mata Atlântica, CEBRAC, Rede Cerrado e SOS Mata Atlântica, a Coordenação do FBOMS, reunida no dia 10 de maio no DF aprova as seguintes avaliações:

O anúncio das mudanças ocorre em um momento no qual conflitos aparentes entre preservação ambiental e crescimento econômico que criam pressão para a flexibilização da legislação no âmbito do licenciamento ambiental estão cada vez mais explorados, distorcidos e deturpados pela grande mídia e setores do Governo. No entanto, entendemos que a idéia e concretização da nova estrutura do MMA não vêm de ontem, mas estavam sendo discutidas desde o mandato anterior do Presidente Lula e inclusive governos passados.

Acreditamos que os esforços do MMA são destinados a criar maior eficiência na gestão ambiental federal, eliminando sombreamentos e superposições de diretorias e gerencias, tanto no MMA como no IBAMA.

De fato, as mudanças no MMA estão destinadas para melhor lidar com os atuais desafios nacional e internacional como as mudanças climáticas, as energias renováveis, a questão dos agrocombustíveis, recursos hídricos, resíduos sólidos e florestas públicas. Finalmente o MMA criou uma secretaria para lidar com as questões do aquecimento global, a Secretaria de Qualidade Ambiental e Mudanças Climáticas. No sentido de demonstrar ao país que a questão das mudanças climáticas é principalmente um problema da manutenção do atual modelo de desenvolvimento incluindo o atual padrão de consumo e produção no qual o meio ambiente é um componente, e um dos maiores desafios que a humanidade enfrentará nos próximos anos e décadas, esperamos que o MMA de fato consiga assumir um papel de liderança na questão de clima, assumindo a coordenação da Comissão Interministerial de Mudança Global de Clima e defendendo uma efetiva Política Nacional para as Mudanças Climáticas e uma política nítida e eficiente de combate ao desmatamento. Com isso, irá assessorar melhor a Presidência da República para tomar as decisões corretas com vistas à próxima Conferencia das Partes (COP12) da Convenção de Clima no final do ano, bem como as decisões
conhecidas como transversais, que compete aos diversos ministérios e órgãos implementar.

A nova Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental será a secretaria para canalizar as demandas da sociedade civil, coordenando entre outras atribuições, a Conferencia Nacional do Meio Ambiente. Colocamos a nossa expectativa de que o conjunto das deliberações das Conferências não sejam meras e simples deliberações ignoradas pelo Governo federal, como foi o caso das deliberações contra os transgênicos e a transposição do Rio São Francisco, entre outras fundamentais. Esperamos e
entendemos, ainda, que os canais de interlocução entre o Ministério e a sociedade civil não dependam exclusivamente da nova Secretaria, mas que diálogos iniciados com o Gabinete, outras secretarias e departamentos, e nas várias instâncias de decisão de política pública, possam ser consolidados no sentido da maior participação popular na gestão pública ambiental.

A Agenda 21 brasileira, na nossa opinião, poderia ser um instrumento para melhorar o dialogo e a visão de integração e transversalidade de políticas públicas. No entanto, nos últimos anos, a ação do MMA em Agenda 21 foi muito concentrada em apoiar Agendas 21 locais. Assim, a Agenda 21 não deverá se limitar à importante esfera de mobilização de cidadãos.

Esperamos que a Agenda 21 receba finalmente a devida atenção como verdadeira ferramenta de planejamento participativo e ordenamento a ser usada de forma transversal entre todas as esferas da administração federal, estadual e municipal. Sem perder de vista a melhor relação e articulação com os órgãos internacionais que de fato defendam a sustentabilidade ambiental.

Para a Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável exigimos que ela possa atender aos desafios colocados com a expansão dos agrocombustíveis e na definição de uma matriz energética mais sustentável, e apoiaremos a posição de precaução e proteção socioambiental com relação a cultivo e processamento de agrocombustíveis. Reivindicamos, ainda, que a recém criada Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais seja valorizada e fortalecida. Da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano, esperamos que ela se oriente pelas recomendações da Comissão Mundial de Barragens, visto que esta solicitação já foi encaminhada pelo FBOMS para a SRH. Para a Secretaria de Biodiversidade e Florestas adotamos o mesmo raciocínio como para as demais e esperamos maior eficiência e menos sombreamento e superposições de
programas e ações.

Considerando o panorama internacional, esperamos que as mudanças no MMA garantam a implementação dos acordos internacionais, como a Convenção das Mudanças do Clima, a Convenção da Diversidade Biológica ou a Convenção de Combate à Desertificação. O MMA deverá, desta forma, trabalhar para vir a assumir liderança no debate sobre a governança ambiental internacional e os processos de reforma do sistema Nações Unidas na área do meio ambiente e desenvolvimento sustentável, defendendo as sinergias das convenções e abrindo um diálogo com a sociedade civil – as empresas, ONGs, centrais sindicais e demais movimentos sociais – evitando que este diálogo se distorça. Com as mudanças no MMA, esperamos também que a cooperação internacional seja tratada de forma mais estratégica e integrada aos novos desafios que a Ministra Marina Silva está a indicar.

Uma das mudanças mais comentadas na mídia se refere à nova estrutura do Ibama e à criação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Estas mudanças estão ocorrendo neste cenário de grandes pressões políticas tanto por parte de outras áreas do Governo como de grandes empresas, o que gera certa intranqüilidade. Não compartilhamos as avaliações e especulações da grande mídia alimentados por setores do governo e interesses do capital nacional e internacional dizendo que a pressão do PAC e da liberação de licenças de construção de grandes obras de geração de energia previstas fez com que a Ministra Marina, pressionada pela Casa Civil, anunciasse esta nova estrutura ministerial e a chamada "divisão" do Ibama. Acreditamos que a nova estrutura do IBAMA para a área de licenciamento deve sim ser fortalecida para dar mais qualidade às licenças. Esperamos que o Instituto Chico Mendes venha a realmente melhorar a gestão do Sistema Nacional das Unidades de Conservação no país,
assimilando as diversas contribuições que o socioambientalismo brasileiro conseguiu produzir.

Defendemos, sim, melhor diálogo com a sociedade sobre mudanças estruturais da administração pública e defendemos a necessidade de que a nova estrutura do MMA e do IBAMA seja seguida por uma real mudança de postura avançando na gestão democrática, integrada e transparente, com visibilidade.

Com relação ao licenciamento ambiental, concordamos com a Ministra Marina que afirma que "projetos importantes não podem passar por cima da legislação". Adiar o anúncio da nova estrutura que nas palavras da Ministra "atende a um sonho de muita gente" e fugir das especulações da pressão do PAC tampouco resolveria o problema, porque em breve "vem outra obra" e a situação se repetiria. Concordamos também com a resposta dada pelo novo secretário-executivo Capobianco: "quem licencia não é parte
interessada", quando perguntado sobre a possibilidade de criar um outro instituto dedicado exclusivamente à fiscalização dos empreendimentos. Outra agência nos moldes das atuais seria mortal ao desenvolvimento e a soberania nacional.

Frente a isso, a coordenação do FBOMS defende o efetivo cumprimento da legislação ambiental referente ao licenciamento, mesmo este estando sob cada vez maior pressão à luz dos empreendimentos do PAC. Esperamos que a nova estrutura do MMA e do IBMA contribua para o fortalecimento da gestão ambiental, da participação da sociedade civil nos espaços de tomada de decisão, maior controle social e transversalidade no âmbito da sustentabilidade socioambiental no Governo Federal. Esperamos que as
nossas expectativas não sejam frustradas e estas mudanças possam atender aos desafios socioambientais atuais e futuros, que – certamente - não serão poucos.

Coordenação Nacional do FBOMS:

Adilson Vieira – Secretário-Geral do GTA
Edinaldo Severiano – Presidente da Associação Alternativa Terrazul
Renato Cunha – Rede Mata Atlântica
Temistocles Marcelos Neto – Secretário-Executivo do FBOMS e Executiva
Nacional da CUT

Brasília, 11 de maio de 2007.
 

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22.3.07

Jornalismo para a sustentabilidade

Um acidente que não deve ser esquecido
Por Elizabeth Oliveira (*)

O acidente ocorrido nas instalações da Bayer CropScience, em Belford Roxo (Baixada Fluminense), no dia 16 de janeiro último, ao que tudo indica não cairá no esquecimento facilmente. A explosão de um tanque contendo o agrotóxico Tamaron foi controlada pela multinacional, mas as reações da sociedade continuam se multiplicando. A primeira delas foi uma representação junto ao Ministério Público Estadual e à Procuradoria da República do Rio de Janeiro, encaminhada pelo Fórum de Meio Ambiente e Qualidade de Vida da Baía de Sepetiba e da Zona Oeste, organização que já teve pedido de abertura de inquérito atendido para apurar as causas e conseqüências da explosão.

Ambientalistas e moradores da cidade estão organizando um abaixo-assinado, reforçando a demanda de investigação apresentada pelo Fórum, enquanto a Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) pretende convocar a empresa a depor em uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), recém-protocolada, para apurar os Crimes Ambientais registrados no Estado nos últimos oito anos.

O ambientalista e coordenador do Fórum, Sérgio Ricardo de Lima, afirmou que o acidente “foi a gota que faltava para que a sociedade se mobilizasse e exigisse uma discussão mais aprofundada sobre a atuação da Bayer no Estado do Rio, a começar pela sua localização”. Segundo ele, a empresa chegou à Belford Roxo há cerca de 50 anos e com o crescimento da cidade atualmente está localizada em uma área urbana, cercada de residências e de todo tipo de estabelecimento. “É por essa e outras razões que na representação junto ao Ministério Público e à Procuradoria, o Fórum defende a transferência das instalações da empresa. É inadmissível que a produção de agrotóxicos e outras substâncias altamente tóxicas, além da incineração de resíduos industriais, estejam convivendo lado a lado com moradores que se queixam permanentemente de problemas de saúde em decorrência dessas atividades potencialmente poluidoras”, reforça o ambientalista.

Moradores sofrem com a falta de infra-estrutura nos arredores da empresa;
ao fundo, a "fumaça branca" da Bayer


O presidente da Comissão de Meio Ambiente da Alerj, deputado estadual André do PV, concorda com o teor da ação proposta pelo Fórum. “Acidentes piores podem acontecer a qualquer momento em Belford Roxo, principalmente porque os órgãos ambientais não têm condições estruturais para fazer um trabalho de fiscalização rigoroso em todas as instalações da empresa. Acho que o momento é oportuno à discussão sobre a necessidade de transferência da planta da Bayer. Não proponho acabar com as atividades da empresa no Estado, mas considero que as suas instalações estão hoje em uma área inadequada”, reitera o parlamentar a defesa que já havia feito no artigo “Uma calamidade ambiental ao nosso lado”, publicado na edição do Jornal do Brasil de 28 de janeiro último.

A Comissão de Meio Ambiente da Alerj, segundo André do PV, pretende convocar representantes da Bayer para depor na CPI dos Crimes Ambientais, não só pelo acidente, mas também pelas reclamações de moradores em relação aos problemas ambientais e de saúde que seriam decorrentes das atividades da empresa em Belford Roxo. Segundo o parlamentar, “se forem feitos exames nas comunidades devem aparecer problemas causados pela poluição industrial”.

A representação do Fórum solicita exatamente que seja feito um levantamento epidemiológico das comunidades que estão mais próximas às instalações da Bayer. A sugestão dada no documento foi de que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), pela sua reconhecida capacidade em questões de saúde pública, seja responsável por essa investigação.

No acidente ocorrido nas instalações da Bayer ficaram feridos três funcionários que precisaram ser hospitalizados. Todos eles tiveram alta, entre os dias 24 de janeiro e 18 de fevereiro, segundo informações da empresa.

Ambientalistas Davson e Sérgio Ricardo lutam pela transferências das
instalações da Bayer de Belfort Roxo, ao fundo


A palavra do MP
O promotor Marcus Leal, da 1ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Duque de Caxias, recebe nesta sexta-feira advogados da Bayer que responderão pessoalmente ao pedido de informações sobre a explosão ocorrida em janeiro e sobre as medidas de prevenção adotadas pela empresa. Responsável pela abertura do inquérito que está apurando as causas e as conseqüências do acidente, o promotor afirmou que não poderia adiantar qualquer detalhe das investigações, antes de analisar os dados solicitados aos órgãos ambientais e de ouvir os esclarecimentos prestados pelos representantes da multinacional instalada em Belford Roxo.

"Tenho informações preliminares de que não houve vazamento de substância tóxica durante o acidente, mas uma grande preocupação que tenho é com relação a riscos futuros nas instalações da empresa. No entanto, preciso analisar todos os dados solicitados antes de me pronunciar sobre o caso porque até agora o que eu sei sobre o acidente foi o que já saiu na imprensa", afirma. Ele acrescentou que a abertura do inquérito levou em consideração as informações sobre a explosão divulgadas pelos meios de comunicação.

Segundo Leal, além dos relatórios sobre o acidente a idéia também é de analisar o tipo de licenciamento que a empresa tem para operar em Belford Roxo. Quanto à demanda de transferência da planta da Bayer encaminhada na representação do Fórum de Meio Ambiente, o promotor foi cauteloso e voltou a reforçar que não gostaria de fazer nenhum julgamento prematuro da questão. Segundo ele, a empresa está atuando na cidade há cerca de 50 anos e o que pode exigir do empreendimento industrial é o cumprimento rigoroso da legislação em vigor, a fim de que as suas atividades sejam compatíveis com o tipo de licenciamento que possui, e com a garantia de equilíbrio ambiental e da saúde da população.

* Leia editorial "Independência, jornalismo de verdade", publicado no post anterior, para entender o objetivo desta reportagem. Produzida pela jornalista Elizabeth Oliveira, ela constituti um marco diferencial, pois foi patrocinada solidária e voluntariamente por diversos jornalistas ambientais que participam da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental (RBJA), sendo veiculada espontaneamente por diversos veículos da mídia ambiental engajados em estimular e exigir maior investimento em jornalismo ambiental investigativo.


**Versão do Portal Ambiente Brasil

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21.3.07

Editorial

Independêcia, jornalismo de verdade
Por Bruno Pinheiro

Na vida tudo gira em torno de interesses. Sejam interesses pessoais ou coletivos, pro bem ou pro mal, tudo o que acontece é movido por uma ou mais intenções. A cobertura da mídia não foge à regra e o interesse maior dos proprietários de veículos de comunicação é, muitas vezes, manter o próprio veículo, que implica em gastos com estrutura, logística, recursos humanos, equipamentos etc. Outros podem almejar poder político, econômico, enfim, desejos mais amplos, mas a manutenção do veículo é sempre uma dificuldade latente.  

Para custear tais gastos, a maior fonte de renda dos veículos de mídia é a publicidade. E aí é que começa o joguete de interesses. Joguete que reflete na qualidade, aprofundamento e veracidade das informações que chegam à sociedade. É fácil entender esta lógica.  

Se imagine dono de uma grande indústria do setor químico. Você investe em iniciativas socioambientais, promove concursos de jornalismo e fotografia ambiental e, lógico, faz um baita barulho em cima disso, alocando quantias consideráveis para inserções publicitárias em jornais, revistas, sites, TV, na tentativa de relacionar a imagem da sua empresa à tão falada sustentabilidade. É o que se chama de "marketing verde".  

Mas por trás da imensa bondade que você pretende aliar à sua imagem institucional, há diversos impactos socioambientais de responsabilidade da sua indústria. Destinação irregular de resíduos tóxicos, ameaça à saúde pública, só para exemplificar. Aí, de repente, um daqueles veículos nos quais você injeta quantias substanciais publica matéria denunciando algumas dessas irregularidas. A lógica?  

Gasto fortunas com publicidade no veículo X. Ele fala mal de mim e eu paro de anunciar nele. Logo ele passará dificuldades financeiras e precisará do meu dinheiro novamente. Então ele deixa de falar mal de mim para voltar a lucrar com meus anúncios.  

Afinal, com o bolso não se brinca.  

Com o objetivo de promover reportagens investigativas totalmente independentes das políticas editoriais dos diversos veículos de comunicação, um grupo de uma rede de jornalistas ambientais deu início a um fundo para a viabilização de tais reportagens. A primeira, produzida pela jornalista Elizabeth Oliveira, muda o foco da cobertura sobre uma explosão na fábrica de agrotóxicos da Bayer em Belfort Roxo, na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro.  

O acidente envolveu um agrotóxico conhecido popularmente como Tamaron, proibido em diversos países pelo alto nível de toxidade. A empresa divulgou bastante as medidas tomadas para a minimização dos impactos provocados pela explosão. Na reportagem que segue, publicada em duas partes você terá acesso á versão dos moradores e ambientalistas da região, as opiniões de uma neurotoxicologista e de advogados e uma entrevista com o diretor de Meio Ambiente da Bayer SA, Enio Viterbo.

Amanhã e depois serao publicadas a primeira e a segunda parte da matéria. A iniciativa, pautada pelo coletivismo e pela cooperatividade, leva a você jornalismo ambiental da melhor qualidade. Jornalismo independente. Jornalismo de verdade.

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8.3.07

Morte de garotos e garotas

E aí?? Ninguém vai fazer nada???
(*) por Denise de Mattos Gaudard
 
Como vão todos??  Como foi o dia de voces hoje??? 
Hoje morreu a Alana Nascimento. Ela tinha apenas 12 anos ......
Ela era uma menina, negra, franzina e morava numa favela...
Aposto como já tem gente lendo e pensando. E daí? 
 
Claro, ela não é uma menina que convive conosco, nem pensar em vê-la brincando com os nossos filhos nos nossos condominios-cada-vez-mais-parecidos-com-uma-combinação-de-presídios-com-campo-de-concentração.
Afinal, ela não é um garoto de classe média, branco, do qual todos identificamos de imediato quando olhamos para os nossos filhos. Mas ela, não .. para meninas e meninos como ela, passamos na rua e cruzamos com eles sempre com um ohar desconfiado, mesmo quando estão com uniformes escolares.
 
E daí?  pensam alguns, afinal, varios deles são "trombadinhas" em potencial, assaltam até quando vão ou voltam da escola. Não dá mesmo para saber quem é quem ... Devem ser observados até sumirem de nossas vistas. E Quando passam direto, nossa! aquele alívio !! Se foram .....  Já retiraram seus rostinhos negros, pobres e feinhos para longe de nossas consciencias .......
 
É Alana... parece que o Brasil não é mesmo um lugar para crianças como voce, sobretudo tendo origens como as suas ...
 
Ela era uma excelente aluna em seu colegio, tirava boas notas, era um exemplo e muito querida por todos  os que a conheciam .... professores, colegas, amigos e familia...
Era meiga, doce e tinha até grandes chances de sair do terrível círculo vicioso que já a condena à uma exclusão social mesmo antes de nascer, acorrentada a uma origem de pobreza renitente, condição maior encontrada em uma das nossas cada vez maiores favelas Segundo declarações, ela queria ser professora, queria ensinar as pessoas pobres como ela, tirá-las tambem de sua condição de pobreza e desigualdade... mas não Alana .....
o Brasil dos desiguais não deixou de novo e de nôvo e de novo!   Quantos deles vão ter de morrer desta forma tão inútil??  
 
E ai gente?? cadê a mobilização popular???
 
Não , ela não foi covardemente arrastada por 7 kilometros por facínoras .....
Foi arrastada pela eterna inépcia, pela falta de competência e pela completa falência do estado brasileiro e pelo abismo cada vez mais profundo que se forma entre as castas brasileiras.
Que classes sociais o quê gente!!!!! 
Já viraram castas mesmo!! Vamos assumir logo de uma vez o nosso potentado geo-socio-político brazuca!!!
 
Seu corpo franzino ficou horas no calorão esperando o rabecão e claro.. a imprensa só noticiou a sua morte porque ela teve a "sorte" de ser assassinada por uma bala perdida em mais um dos já rotineiros tiroteios entre a policia e traficantes. Despois de 11 horas no IML a familia não tinha dinheiro para enterra-la..
aah sim, a imprensa até deu uma (sic).. atenção ao fato.
 
Está cada vez mais difícil de ter orgulho de ser carioca gente. Desculpem o mau humor, mas estas eternas "diferenças de pesos" e a forma como cada caso de criança covardemente morta é demagógicamente tratado pela imprensa e pela sociedade brasileira me enojam e me envergonham. 
 
Ela foi arrastada pela nossa omissão, sim somos TODOS RESOPNSAVEIS pela morte dela. Matamos uma Alana todos os dias com a nossa alienada comodidade, pela nossa conivência com a inapetência e inépcia das autoridades públicas e a hipócrita sociedade brasileira !! O grande negocio agora é continuar rezando para não acontecer conosco nem com niguem a quem amamos... longe de nós....
 
Ela não é um menino nem uma menina da classe media que nem o pobre João Hélio. Que perdoem todos mas agora quem está com o peito engasgado e se sentindo embargada e envergonhada sou eu, por ter tão pouco a fazer para impedir que Joãos Hélios e Alanas morram às pencas nas favelas e por aí.....
 
Mas agora quero sinceramente saber de voces todos. A morte hedionda do pequeno João Hélio revoltou e mobilizou o Rio de Janeiro com um todo e até o Brasil inteiro, enquanto meninos e meninas iguaizinhos à Alana e até ao João Hélio morrem ÀS PENCAS E TODOS OS DIAS, tanto nas favelas quanto nas periferias mais pobres desse país de merda!  
 
E NINGUEM FALA NEM FAZ ABSOLUTAMENTE NADA!!!!
 
Será que nos identificamos mais com os Joãos Hélios do que com as Alanas ?????
 
Quero ver a mobilização..... aahammm revoltadissima da revista VEJA, gritando em letras garrafais em seu semanário e gastando borbotões de dinheiro em Outddoors por toda a cidade do Rio de Janeiro ( gastaram em São Paulo tambem? me digam !) cunhando a seguinte frase emblemática;
 
E AÍ?? NINGUEM VAI FAZER NADA ??
 
Aliás, eles podiam ter gasto este dinheiro promovendo alguma obra social para ajudar um pouquinho a evitar que a nossa sociedade excrecentemente DESIgualitária fabrique mais garotos como aqueles que mataram o Antonio.
 
Perdão Joãos, Hélios, Antonios, Perdão Alanas.....  
 
Aaah sim, enquanto isso, vamos às "boas noticias " para as castas de cima. Os pobres juizes estaduais acabaram de ganhar um mimo de seus colegas do ST e do imparcialíssimo pessoal do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Agora, os juizes estaduais tem o direito de ganhar mais do que o teto dos magistrados do Supremo, ou seja, estes pobres brasileiros  receberam o direito de ganhar mais de R$ 24.000,00 por mês, fora as mordomias, tempo de serviço menor do que o resto dos brasileiros, gabinetes com funcionarios ganhando mais de dez mil reais mensais, sem mencionar as vantagens das aposentadorias integrais.
 
E como o funcionalismo público assessor tambem baliza os seus salários pelos proventos destes sofredores já tão mal pagos iremos assitir em breve um "efeito cascata"  de reinvidicações destes pobres trabalhadores para que se "proporcionalize" tambem os seus salários. Afinal a nação brasileira é rica e generosa e eles, claro... fazem muito por merecer!  
 
E AÍ?? NINGUEM VAI FAZER NADA ????
 
 
(*) Denise de Mattos Gaudard é consultora de Gestão Empresarial e Ambiental. Participa do desenvolvimento de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) . Também ministra cursos e escreve artigos sobre MDL e Gestão Participativa em mídias nacionais e internacionais

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