18.6.07

Inação, Educação Ambiental e "um outro mundo possivel"

Um artigo publicado hoje no jornal Folha de São Paulo (Sob o signo de Cassandra - Marcelo O. Dantas - Pág 3) abordava uma questão bastante presente em nossa realidade: o conformismo, a alienação e a inação do povo brasileiro.

Nós educadores ambientais lidamos diariamente com processos participativos, afinal a democracia radical é um de nossos princípios, e realmente é perceptível que não existe no brasileiro uma cultura de participação. Isto, creio, poucas pessoas podem contestar.

Esta participação a que me refiro pode ser compreendida em sentido totalmente amplo. Se refere desde ao hábito de se posicionar em questões públicas, reivindicar, ocupar espaços de participação e mobilizar-se até àquela criança que não tem medo de se colocar, de fazer perguntas, de questionar o professor quando em grupo. O brasileiro, de uma forma geral, não tem este costume.


E não se trata de inépcia.


No texto, o autor faz uma analogia com a conhecida história do Cavalo de Tróia. "Tal como os cidadãos de Tróia, que, em sua exaustão, após dez anos de guerra, desdenharam dos alertas de Lacoonte [que avisou do perigo que representava adentrar à cidade de Tróia com o "presente"], assim os brasileiros parecem hoje cansados de lutar por um país melhor, encontrando desculpas de toda sorte para aceitar como corriqueira a série interminável de abusos que vêm sendo perpetrados por nossas classes dirigentes".


Os troianos, cansados e exaustos com os 10 anos de guerra, não pestanejaram. Aceitaram prontamente o "presente", sem questionar. Depois de colocá-lo para dentro da cidade, trataram de comemorar com uma festa farta de comidas e bebidas. No meio da noite, silenciosamente os gregos saíram do cavalo de madeira. Com os troianos bêbados e sonolentos, não encontraram muita dificuldade para destruir Tróia e resgatar a princesa Helena.

As pessoas no poder podem ser consideradas os gregos. Sempre que se vêem em uma situação ameaçadora inventam alguma artimanha para safar-se. Não importa o quão absurda é a artimanha. Uma das maiores características da classe política brasileira é a cara-de-pau.

Os troianos representam o povo brasileiro em geral. Cansado de tanta corrupção e impunidade, encontra argumentos para justificar o conformismo frente às bandalheiras cometidas pelas classes dominantes. O pensamento que vale é o de que não adianta fazer nada, afinal de nada vai adiantar.


Dia após dia os jornais chegam às bancas repletos de notícias sobre corrupção. São escândalos que até recebem apelidos. Muitas vezes mais de um escândalo estoura no mesmo dia. Como a sociedade compreenderia, se muitas vezes os mesmos sujeitos integram mais de uma bandalheira simultaneamente? Com os escândalos apelidados fica mais fácil das pessoas reconhecerem qual é a podridão de que se trata. Assim se evita confusão.


E nós, educadores ambientais. Qual o nosso papel frente esta realidade?


A situação se mostra tão enraizada que assusta. Quantas vezes não chegamos nas comunidades e identificamos diversos problemas socioambientais que para a própria comunidade não são problemas? Ou então problemas que não sabem como resolver e, portanto fazem o possível para se adaptar a ele. Não podemos dar às pessoas as respostas para todos esses problemas. Mas podemos mostrar a elas que, juntas, podem fazer muito.


E é isso que muitas pessoas não entendem na Educação Ambiental. Pensam ser uma modalidade educativa voltada a ensinar às crianças os nomes dos "bichos" e das plantas, ou a transmitir as técnicas da coleta seletiva e como se dá o processo de reciclagem.


O meio ambiente é composto também por todos esses acontecimentos torpes que somos obrigados a digerir diariamente. A Educação Ambiental deve criar condições para que as pessoas passem a participar ativamente deste ambiente. Da forma que preferirem, do jeito que acharem melhor. Isto é, empoderar. Afinal, só com a mediação e articulação das contrariedades, das diversificadas intenções e visões de mundo, das muitas dimensões que compõem nossa existência é que se pode pensar em construir sociedades sustentáveis. E isto só acontece em sociedades livres, autônomas e emancipadas.


Não se trata de incentivarmos o resgate da "luta de classes". Como falei, trata-se de mediar contrariedades. E assim, basicamente, mostrarmos às pessoas que os valores e idéias que embasam tais comportamentos podem ser reproduzidos, ou questionados a partir da construção de novos valores. Ou seja, que tal concepção de mundo não vai muito além do umbigo de cada um e que não participar é reproduzir tudo o que repudiamos.


Ao Educador Ambiental, cabe religar os laços que nos distanciam uns dos outros e de tudo. Cabe religar os laços que nos impulsionam a agir. Cabe acender, no interior dos sujeitos, aquela chama que diz que o mundo não é assim, mas que ele está assim. E que um outro mundo é possível.


Em resumo, fazer exatamente o contrário do que fazem histórica e sistematicamente as classes hegemônicas. Construir coletivamente argumentos para aceitarmos e compreendermos que o sonho não acabou e que podemos e devemos correr por ele. Sozinhos e com todos ao mesmo tempo.

1 comment:

Núcleo do Jovem Jornalista said...

Fala Bruno, aqui é o Pedro, amigo do Kbeça, lá da Unisantos!

Muito boa tua análise sobre o texto da folha. Essa falta de ação do brasileiro e o costume de só reclamar realmente é um fator que dificulta processos de mudanças na sociedade.

Falando em mudanças, faço parte de um grupo que se chama Núcleo do Jovem Jornalista. Estamos fazendo um projeto de comunicação comunitária na comunidade dos coriços, no centro de Santos. Dá uma olhada em www.nujjor.blogspot.com, nosso blog recém-formado.

Mantemos contato!

Abraços,

Pedro