11.12.06

Marina lá, Marina cá...

É fácil resolver qualquer prooblema para o presidente Lula. Quando surge algum problema, logo se acha um bode espiatório. Aquele que levará toda a culpa pelas tramóias e trambiques, afinal o presidente não sabe de nada. Mas dessa vez a figura muda. O "bode" da vez não é nenhum ex-sindicalista, petista ou lulista.

O Brasil precisa crescer economicamente. Após as eleições ficou bem claro que o desempenho da economia será o termômetro da segunda gestão Lula. E ele se vê obrigado a atingir níveis de crescimento que satisfaça a empresariado, sociedade em geral e que convença a sociedade civil organizada.

Ao se sentir pressionado, adotou um discurso desenvolvimentista, que muito está preocupando os ambientalistas. E arranjou culpado para os níveis pífeos de crescimento que o Brasil alcanou nos últimos anos (média de 2,5% ao ano): a preservação do Meio Ambiente: representado pela demora excessiva dos processos de Licenciamento Ambiental. Isto estaria atravancando os avanços em infra-estrutura, e travando o desenvolvimento da economia. A responsável: Ministra Marina Silva.

Em meio a opiniões diversas, o colunista Mercelo Leite, da Folha de São Paulo, publicou em sua coluna desse domingo, artigo que desmistifica a culpa jogada nos ambros da ministra Marina Silva. E loança um questionamento: até que ponto os jornalistas estão realmente checando as informações que recebem?

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Folha de S.Paulo - 9/12/2005
MARCELO LEITE

Sai daí, Marina

O ÚNICO espetáculo de crescimento que se presencia no segundo mandato de Lula, em gestação, é o da indignidade. O maior e o melhor exemplo da inversão -para não dizer corrupção- de valores está na fritura de um dos poucos ministros do qual o povo conhece o nome, além de Gilberto Gil: Marina Silva, titular do Meio Ambiente.

Marina representa o caso raro em que popularidade se funda no reconhecimento pela dedicação da vida a uma causa. Apanha há décadas de gente mais rica, poderosa e influente, no Acre e em Brasília, os últimos quatros anos como ministra. Nunca fraquejou, mesmo quando injustamente eleita para bode expiatório da crise na infra-estrutura.

O presidente se revela mais uma vez desinformado quando aceita o bombardeio sobre Marina para destravar um fictício desenvolvimento represado pelo Ibama. O canhonaço parte da Casa Civil, onde reina a herdeira de José Dirceu, antes czarina de Minas e Energia, justamente o setor sobre o qual pesam suspeitas de novo apagão em desenvolvimento.

Pior: o artilheiro mais ativo é Blairo Maggi, antigo rei da soja, hoje comandante do Desmatamento Grosso, como deveria ser rebatizado o Estado sob seu governo. Os empresários de sua estirpe não querem escorraçar Marina da Esplanada pelo que deixa de fazer, mas pelo que está fazendo.

Hidrelétricas? Apenas quatro dependem no presente do Ibama, informa o ministério. Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, as duas mais importantes, estão na reta final -e o último tropeço foram audiências públicas canceladas pela Justiça, em que o Ibama foi a parte vencida. Outras seis usinas contam com autorização, mas suas obras não começam -o que Marina tem a ver com isso?

O Ministério Público representa contra empreendimentos, a Justiça embarga, e a ministra leva a fama. Há uma infinidade de recursos à disposição de procuradores militantes, por assim dizer, para bloquear obras. Um deles, muito utilizado, é argüir a incompetência dos governos estaduais para fazer o licenciamento. Marina negociou durante meses uma regulamentação do artigo 23 da Constituição, para estreitar a brecha, e encaminhou a proposta à Casa Civil. Em março.

Quando assumiu, havia 75 funcionários na área de licenciamento do Ibama, 68 dos quais com contratos precários. Hoje são 150, e 125 deles servidores de carreira. Eram analisados 145 processos por ano, no governo anterior. Agora são 225. Há quem não goste desse tipo de desentrave, mas por razões escusas. É por isso que o governo Lula não merece Marina Silva.

http://cienciaemdia.zip.net
MARCELO LEITE é colunista da Folha

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27.10.06

O Rio de Janeiro continua lindo...

Sou obrigado a reafirmar que o Rio de Janeiro é uma cidade deslumbrante. Não é à toa que já foi alvo principal de muitos estrangeiros que viam na cidade um local aprazível para viver.

Do alto do Morro de Santa Tereza estou diante de três dos maiores atrativos turísticos dessa cidade e do Brasil. Hoje reafirmo que a cidade é deslumbrante, tem um charme mágico e uma energia muito forte. Mas daqui do alto, com o Pão de Açúcar à frente e o Cristo Redentor ao lado, as desigualdades estão debaixo do meu nariz.

O terceiro atrativo? Os morros cariocas. Eles estão permeados pela cidade. Aqui, como em poucos lugares do mundo, as diferenças sociais são literalmente vizinhas. Dividem muros.

Estou certo agora de que o Rio de Janeiro é um complexo paradoxo. É uma grande cidade que em muitos pontos não tem ar de cidade grande. A pobreza está lado a lado com a riqueza exacerbada. O Parque Nacional da Tijuca, a trinta minutos do centro da cidade, possibilita um contato com a natureza que os habitantes de São Paulo por exemplo, nem sonham em ter.

Vou ficar nessa visão simplista e superficial. Mas após cinco dias aqui, depois de anos sem visitar esta cidade, corroboro com a canção: "O Rio de Janeiro continua lindo".

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21.10.06

Edições Verdes: já não era sem tempo

Com muito atraso, um salve à equipe de jornalistas responsáveis pelo especial sobre Meio Ambiente da Edição Verde da Revista Época.

A Juliana Arini, Alexandre Mansur, Maura Campanili, Renata Leal, Ana Aranha, Luciana Vicária e Elisa Martins, os parabéns desse ambientalista pretensioso a jornalista. Não apenas pela qualidade da reportagem, mas reconhecendo a dificuldade que é emplacar aquele tanto de páginas em uma revista do porte de Época. Ainda sobre um tema geralmente considerado marginal nas redações, ou desprezado pelos veículos em função dos anunciantes.

O planeta passa por uma crise climática que pode pôr em cheque a existência da vida nele como é conhecida hoje. Não se trata de sensacionalismo, como podem pensar alguns incrédulos e desavisados. É uma verdade incontestável, consenso entre os maiores pesquisadores do clima e da vida mundo afora.

As evidências dessa verdade estão por toda a parte. Na Indonésia, um tsunami devastou boa parte do arquipélago e matou milhares de pessoas. A Amazônia, maior Bacia Hidrográfica do Mundo e onde estão 20% de toda a água doce de superfície do planeta, passou em 2005 por uma seca inesperada e intensa. E as estimativas são de que o fenômeno se torne mais freqüente. Já se fala inclusive em savanização de áreas da Amazônia.

Enfim, a lista é imensa.

É preciso que as massas saibam dessa verdade. Ou melhor, é preciso que elas entendam essa verdade e compreendam a ligação entre os diversos fatores.

O grupo de publicações internacionais que aderiram à iniciativa “Edição Verde”, como as americanas Vanity Fair e Newsweek, a alemã Focus e agora a Revista Época, abre um precedente interessante. Além de produzirem um especial, esses veículos agora darão destaque ás questões ambientais. Já não era sem tempo. Mas antes tarde do que nunca.

Mas foi preciso um fenômeno natural como o furacão Katrina atingir em cheio o “1º mundo”, para isso acontecer. Enquanto o “submundo” sofria as conseqüências o assunto não merecia atenção da mídia.Mas não sem a participação de um candidato a presidente, que tem na mão a causa certa, no momento certo. Al Gore é um presidenciável que não faz campanha em seu país, mas no mundo todo, ao massificar a “verdade incoveniente”.

Não devemos ser ingênuos. Ao colocar-se como o homem contra George W. Bush, ele angaria o apoio da população global. Quem não vai querer um ambientalista no governo dos EUA, um país que, juntamente com a China, é responsável pela grande parte das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera. Além do fator guerra que recai sobre as costa de Bush.

Só espero que outras mídias também sigam a mesma linha. Afinal, a crise que enfrentamos é paradigmática. Tem a ver com valores e comportamentos que precisam mudar radicalmente. E nisso os meios de comunicação de massa têm um dos papéis mais relevantes.

Edições Verdes, eu quero é mais!

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