21.3.07

Editorial

Independêcia, jornalismo de verdade
Por Bruno Pinheiro

Na vida tudo gira em torno de interesses. Sejam interesses pessoais ou coletivos, pro bem ou pro mal, tudo o que acontece é movido por uma ou mais intenções. A cobertura da mídia não foge à regra e o interesse maior dos proprietários de veículos de comunicação é, muitas vezes, manter o próprio veículo, que implica em gastos com estrutura, logística, recursos humanos, equipamentos etc. Outros podem almejar poder político, econômico, enfim, desejos mais amplos, mas a manutenção do veículo é sempre uma dificuldade latente.  

Para custear tais gastos, a maior fonte de renda dos veículos de mídia é a publicidade. E aí é que começa o joguete de interesses. Joguete que reflete na qualidade, aprofundamento e veracidade das informações que chegam à sociedade. É fácil entender esta lógica.  

Se imagine dono de uma grande indústria do setor químico. Você investe em iniciativas socioambientais, promove concursos de jornalismo e fotografia ambiental e, lógico, faz um baita barulho em cima disso, alocando quantias consideráveis para inserções publicitárias em jornais, revistas, sites, TV, na tentativa de relacionar a imagem da sua empresa à tão falada sustentabilidade. É o que se chama de "marketing verde".  

Mas por trás da imensa bondade que você pretende aliar à sua imagem institucional, há diversos impactos socioambientais de responsabilidade da sua indústria. Destinação irregular de resíduos tóxicos, ameaça à saúde pública, só para exemplificar. Aí, de repente, um daqueles veículos nos quais você injeta quantias substanciais publica matéria denunciando algumas dessas irregularidas. A lógica?  

Gasto fortunas com publicidade no veículo X. Ele fala mal de mim e eu paro de anunciar nele. Logo ele passará dificuldades financeiras e precisará do meu dinheiro novamente. Então ele deixa de falar mal de mim para voltar a lucrar com meus anúncios.  

Afinal, com o bolso não se brinca.  

Com o objetivo de promover reportagens investigativas totalmente independentes das políticas editoriais dos diversos veículos de comunicação, um grupo de uma rede de jornalistas ambientais deu início a um fundo para a viabilização de tais reportagens. A primeira, produzida pela jornalista Elizabeth Oliveira, muda o foco da cobertura sobre uma explosão na fábrica de agrotóxicos da Bayer em Belfort Roxo, na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro.  

O acidente envolveu um agrotóxico conhecido popularmente como Tamaron, proibido em diversos países pelo alto nível de toxidade. A empresa divulgou bastante as medidas tomadas para a minimização dos impactos provocados pela explosão. Na reportagem que segue, publicada em duas partes você terá acesso á versão dos moradores e ambientalistas da região, as opiniões de uma neurotoxicologista e de advogados e uma entrevista com o diretor de Meio Ambiente da Bayer SA, Enio Viterbo.

Amanhã e depois serao publicadas a primeira e a segunda parte da matéria. A iniciativa, pautada pelo coletivismo e pela cooperatividade, leva a você jornalismo ambiental da melhor qualidade. Jornalismo independente. Jornalismo de verdade.

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