Cada qual com seu ano novo
Mais um ano gregoriano acabou e outro começou. Aqui no litoral, todos na praia aguardando a meia-noite como se a vida fosse mudar após o relógio demonstrar que outro ano começa.
E me pergunto: por que o ano termina 31 de dezembro e começa 1° de janeiro para todo mundo? Como em todas, algo de muito estranho nesta convenção.
Falar de ano é fazer referência a um ciclo: o movimento de translação. A dança de 365 giros de Gaia sobre o próprio eixo enquanto dá uma volta no Sol, como que em reverência à criação. Uma dança que na verdade nunca termina, recomeça...
Assim é também com os outros planetas regidos pelo tempo Sol. Giram em torno dele numa dança interminável, mas não levam o mesmo tempo que a Terra para completar o ciclo de translação. Assim como os Astros, tenho o meu próprio jeito de dançar e me recuso a dançar em passinhos como os pagodeiros do apocalipse!
A volta ocidental em torno do Sol é regida pelo calendário gregoriano, segundo o qual os anos de todos nós começam e terminam simultaneamente. Imagine o Sol vestido de branco, estourando um espumante e a jantar lentilha...
À luz de uma proposta de organização temporal, vê-se rapidamente que o calendário gregoriano não é indicado para ordenar um ciclo. Tem subciclos irregulares (meses, semanas, dias...) e geração mecânica. Além da característica padronização propagada pelas forças globalizantes ocidentais. Não organiza, mas controla e massifica. E bagunça.
Em suma, o tempo não é, nunca foi e nunca será igual para ninguém, apesar de convivermos uma sicronia temporal. Não entramos aqui todos juntos e não seguimos as mesmas rotas, mas estamos todos aqui e compartilhamos o mesmo destino; assim como nos encontramos a todo instante no limiar do paradoxo autonomia e coletividade.
O tempo é a mente e a mente é a expressão cósmica do agora. Quando o agora é um tempo-igual-para-todos perde o encanto mágico da autonomia e o valor da criação. O tempo-igual-para-todos oprime o inesperado, é pre-estabelecido, esfaqueia a espontaneidade... Não entrei nesta dimensão junto a todos nem sequer vim pela mesma porta!
O girar dos ponteiros promove o passado de mera lembrança a fantasia vivenciada e cria nostalgia por um desejo desconhecido. Já o futuro, este sim, o único sobre o qual ainda é possível ser autônomo, torna-se a meta por excelência.
Quem tem o tempo igual a todos acha o agora insosso, sem sal, apócrifo; considera o passado a utopia conhecida; imagina para o futuro a possibilidade de reviver o passado ou um destino determinado.
E os sonhos têm quase sempre a forma de um futuro de poder. Este, qualquer que seja, distancia os homens do agora, instante atômico que passa despercebido pelos sentidos físicos; e não se pode esquecer que se distanciar do agora é fugir da própria mente.
Todos os sonhos de poder apntam para a matéria, e a matéria, que só pode ser tocada, não pode ser vivida, pode ser tocada por apenas alguns poucos. Para muitos não passa de desejo, para poucos é objetivo e resultado.
De qualquer forma, a matéria por si só não é uma utopia vivenciável. Como intuito, ela frustra as expectativas de realização, de possíveis melhoras e de harmonia com/no/do mundo até se perder a autonomia sobre os próprios sonhos.
Quem nunca desejou um produto inútil porque a propaganda instigou? Cuidado com os publicitários!, eles pode ser traiçoeiros... foram escolhidos para ser os oráculos da Babilônia! E por isso mesmo sua linguagem deve ser apropriada pela movimentação.
Não podemos permitir que o tempo e os sonhos sejam controlados. Deseje feliz ano novo no aniversário das pessoas.
2 comments:
Tua explanação sobre o tempo agregou bases para as reflexões que vinha fazendo desde que conheci o calendário maia.
A partir dai creio que não pode haver mais sanidade na teu conselho de desejar feliz ano novo no aniversário das pessoas.
Boa sacada! Abraço irmão!
Salve Bruno!
Decolo nos teus pensamentos e junto embarco de malas feitas para vislumbrar o encantamento do ser, dos vivos e não-vivos. As dimensões reluzem a quintessência espiritual do universo, os nossos corações!
Nessa viagem etérea, dentro do caminho das águas, de uma natureza existencial, nossos corpos se unem, desmistificam-se e abrem portas à ação dos desejos.
Saudosamente condecoro Mario Quintana para prencher este escuro de luz.
Escreveu Quintana:
"Amigos não consultem os relógios quando um dia me for de vossas vidas... Porque o tempo é uma invenção da morte: não o conhece a vida - a verdadeira - em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira".
E, brincando com a morte: "A morte é a libertação total: a morte é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapatos".
Muita luz e escuridão
João Roberto
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