Universo simbólico e o espantalho gramatical
No Brasil, a Educação Ambiental é um campo construído historicamente como a prática educativa do movimento ecológico. A estratégia de permanente questionamento e desconstrução dos padrões de relações e enraizamento dos valores, preceitos, princípios éticos, formas de visões e linhas de pensamento do movimento ambientalista que, complexo em si mesmo, possui diversas correntes.
Por aqui, a EA foi lapidada e fortalecida fora do contexto escolar. Delineando-se como um movimento de educação popular, configura uma espécie de subsistema do movimento socioambientalista que, ao tomar contornos deste, com sua crítica radical aos padrões tradicionais de relações pessoais, públicas, espirituais etc, se apropria de termos, conceitos, teorias e linhas filosóficas comuns aos ecologistas.
Esse processo histórico estabeleceu um universo simbólico e conceitual do movimento socioambiental, que exerce uma função aglutinadora, identitária, estabelecendo laços simbólicos e códigos comuns entre os militantes. Mas alguns acontecimentos recentes suscitaram reflexões sobre até que ponto tal universo simbólico é positivo e quando começa a ser um complicador.
Após o III EEEA – Encontro Estadual de EA de São Paulo, alguns feedbacks de pessoas que foram ao evento apresentaram um certo desconforto.
O encontro era o ponto culminante do processo de consulta pública à minuta da Política Estadual de EA, reunindo profissionais da EA das antigas e muitos jovens altamente engajados. Mas reuniu também muitos professores e jovens curiosos e interessados em conhecer melhor este campo que emerge em importância com a deflagração dos problemas ambientais na atualidade. Destes últimos, alguns disseram sentir-se perdidos no meio de tanta siglas desconhecidas e termos diferentes com os que estão acostumados.
REPEA, CJs, REJUMA, REABS, RUPEA, Coeduca, Cescar, Coletivos Educadores, Redes, socioambiente, pensamento holístico, sistêmico, comunidades de aprendizagem, ecoalfabetização, agenda 21, carta da terra, Tratado de EA para sociedade sustentáveis e responsabilidade global... e por aí vai.
Este universo conceitual acaba desenvolvendo uma função de duas mãos. Ao mesmo tempo que dá um certo sentido de coesão e serve como forma de distanciar das raízes culturais hegemônicas, entranhadas de valores capitalistas, patriarcais, industriais, as experiências dos últimos dias demonstraram que este universo conceitual pode também ser uma barreira para a participação de novos atores nesta cena.
E depois do boom das redes então, somada à forte ligação que o movimento ambiental estabelece com este padrão organizacional, surge também uma constelação de siglas que passam integrar esse universo simbólico e conceitual, fazendo-se presentes do cotidiano dos atores sociais envolvidos com a área, complicando ainda mais sua compreensão.
A Educação Ambiental assume uma postura altamente integrativa, até mesmo pelo viés transdiciplinar da temática socioambiental, que permite interfaces com inúmeros outros temas. Se propõe a dialogar com todos os grupos possíveis, tentando deflagrar processos de reflexão individual e coletiva sobre a postura que temos assumido perante Gaia e o que isto tem significado, com o intuito de construir novas percepções da realidade e novas formas de pensamento, alinhadas com os princípios da sustentabilidade.
Mas para ajudar a construir o “outro mundo possível”, a educação ambiental não deve descuidar da sua capacidade de agregação de novos agentes. Sobretudo nestes eventos, um risco muito grande é cairmos na arrogância do jargão.
É um verdadeiro paradoxo que nos suscita um importante questionamento: como manter e fortalecer esses laços identitários, que carregam uma crítica direta aos padrões de consumo e de relacionamento dos humanos entre si, com as outras formas de vida e com o ambiente e que, portanto, trazem grande potencial de permear novos símbolos no imaginário coletivo, sem que isso se torne um "espantalho gramatical" do movimento?
Por aqui, a EA foi lapidada e fortalecida fora do contexto escolar. Delineando-se como um movimento de educação popular, configura uma espécie de subsistema do movimento socioambientalista que, ao tomar contornos deste, com sua crítica radical aos padrões tradicionais de relações pessoais, públicas, espirituais etc, se apropria de termos, conceitos, teorias e linhas filosóficas comuns aos ecologistas.
Esse processo histórico estabeleceu um universo simbólico e conceitual do movimento socioambiental, que exerce uma função aglutinadora, identitária, estabelecendo laços simbólicos e códigos comuns entre os militantes. Mas alguns acontecimentos recentes suscitaram reflexões sobre até que ponto tal universo simbólico é positivo e quando começa a ser um complicador.
Após o III EEEA – Encontro Estadual de EA de São Paulo, alguns feedbacks de pessoas que foram ao evento apresentaram um certo desconforto.
O encontro era o ponto culminante do processo de consulta pública à minuta da Política Estadual de EA, reunindo profissionais da EA das antigas e muitos jovens altamente engajados. Mas reuniu também muitos professores e jovens curiosos e interessados em conhecer melhor este campo que emerge em importância com a deflagração dos problemas ambientais na atualidade. Destes últimos, alguns disseram sentir-se perdidos no meio de tanta siglas desconhecidas e termos diferentes com os que estão acostumados.
REPEA, CJs, REJUMA, REABS, RUPEA, Coeduca, Cescar, Coletivos Educadores, Redes, socioambiente, pensamento holístico, sistêmico, comunidades de aprendizagem, ecoalfabetização, agenda 21, carta da terra, Tratado de EA para sociedade sustentáveis e responsabilidade global... e por aí vai.
Este universo conceitual acaba desenvolvendo uma função de duas mãos. Ao mesmo tempo que dá um certo sentido de coesão e serve como forma de distanciar das raízes culturais hegemônicas, entranhadas de valores capitalistas, patriarcais, industriais, as experiências dos últimos dias demonstraram que este universo conceitual pode também ser uma barreira para a participação de novos atores nesta cena.
E depois do boom das redes então, somada à forte ligação que o movimento ambiental estabelece com este padrão organizacional, surge também uma constelação de siglas que passam integrar esse universo simbólico e conceitual, fazendo-se presentes do cotidiano dos atores sociais envolvidos com a área, complicando ainda mais sua compreensão.
A Educação Ambiental assume uma postura altamente integrativa, até mesmo pelo viés transdiciplinar da temática socioambiental, que permite interfaces com inúmeros outros temas. Se propõe a dialogar com todos os grupos possíveis, tentando deflagrar processos de reflexão individual e coletiva sobre a postura que temos assumido perante Gaia e o que isto tem significado, com o intuito de construir novas percepções da realidade e novas formas de pensamento, alinhadas com os princípios da sustentabilidade.
Mas para ajudar a construir o “outro mundo possível”, a educação ambiental não deve descuidar da sua capacidade de agregação de novos agentes. Sobretudo nestes eventos, um risco muito grande é cairmos na arrogância do jargão.
É um verdadeiro paradoxo que nos suscita um importante questionamento: como manter e fortalecer esses laços identitários, que carregam uma crítica direta aos padrões de consumo e de relacionamento dos humanos entre si, com as outras formas de vida e com o ambiente e que, portanto, trazem grande potencial de permear novos símbolos no imaginário coletivo, sem que isso se torne um "espantalho gramatical" do movimento?
3 comments:
Oi! Tô passando rapidinho pra espionar seus pensamentos...
Muito bom seu Blog!
Bjkas
Oi Vanessa,
obrigado pela visita, meu anjo. Seja sempre bem vinda a caramujear pora qui e deixar-nos um pouquinho de sua baba.
Abçs!
Bruno
e ae rapaz!!
a questao levantada nesse texto é mto pertinente para mim, no momento. pq eu quero mto atuar, botar a mao na massa msm, mas ainda to meio perdida.. sem saber direito como funciona toda essa rede complexa e entremeada, nem como participar dela!! mas, aos poucos eu vou entendendo.. quer dizer: espero neh! =)
grande beijo babado!! :D
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